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sexta-feira, 1 de novembro de 2019

IBAM PROVA ADVOGADO SANTOS falta a q. 5


PREFEITURA DE SANTOS

Balanço(*)

OTTO LARA RESENDE

         Por que hei de agradar o rude sofrimento e mais rude torná-lo, na desesperança? Por que proclamar a tristeza inútil diante das coisas que secretamente e melhor compreendo? Não falarei do desamparo que finamente aperta os dedos na garganta. Não citarei o sentimento peculiar aos que têm propensão para o desengano e, mais do que nunca, ao crepúsculo, sentem-se traídos e ultrajados sem motivo. Não mais me referirei a estados de alma que nada contêm além de um vazio cinzento e interminável, um abismo de sombra e de abstrato, onde a tristeza rumina o seu cadáver.
          Todos os gestos seriam inúteis. Nada salva e tudo nos perde e atraiçoa. O temor sustenta minhas interrogações e de repente me sinto só, perdidamente só e anterior a todos, como se ninguém mais houvesse. Tudo desaparece na refração das águas da memória. Vejo as imagens deformadas, mas que persistem, fantasmas íntimos. Rio e já não entendo; choro e me dilacero lentamente no tempo em que tudo está pesadamente mergulhado. Não grito porque o hábito se forma e o pudor defende. Conheço e entendo. Algumas vezes adivinho, mas não devasso. O que sabe deve calar-se para não ferir. Se digo, as palavras nada significam senão o prazer de proferi-las e achá-las bem achadas, não para que exprimam, mas simples jogo colorido que diverte. Não proporei normas, nem direi o que abomino. Deu-nos Deus a palavra para melhor silenciar. No inarticulado, me descubro um homem, com um nome, certos hábitos, fisionomia, alguns cacoetes e muitas possibilidades. Mas sobretudo vivendo por conta própria. Foi um ato irresponsável confiar-me a mim mesmo. Meu destino gira nos meus dedos. Não me pertenço e nem me encontro. O tormento da lembrança, como cãibra, paralisa os gestos e sobrepõe ao que é o que já foi. Calculadamente percorro o caminho da fatalidade, onde os abismos espreitam e aguardam a imagem quebrada, e cem vezes traída.


1. "Por que hei de agradar o rude sofrimento e mais rude torna-lo, na desesperança?"
0 trecho acima foi reescrito preservando-se o sentido original e respeitando o que preceitua a norma culta em qual alternativa?
Hei de agradar o rude sofrimento e mais rude, torna-lo, na desesperança, porquê?
Hei de agradar o rude sofrimento e mais rude, torna-lo, na desesperança, por que?
Hei de agradar o rude sofrimento e mais rude, torna-lo, na desesperança, por quê?
Hei de agradar porquê o rude sofrimento e mais rude toma-lo, na desesperança?

2. No primeiro paragrafo do texto, Otto Lara Resende:
a) reconhece que o desamparo o atingiu.
b) Propõe se a debater o sofrimento peculiar daqueles que têm propensão para o desengano.
c) admite compreender melhor a tristeza que por vezes o assombra, ao proclama-la ao mundo.
d) rejeita discussões sobre estados de alma que representem algo mais do que um "vazio cinzento e interminável

3. "Deu-nos Deus a palavra para melhor silenciar".
A transposição do trecho acima para a voz passiva resultara na forma verbal:
sendo-nos dada.
ser silenciada.
foi-nos dada.
fora silenciada.

4. Leia os períodos a seguir.
I. "Por que proclamar a tristeza inútil diante das coisas que secretamente e melhor compreendo?"
II. "Não citarei o sentimento peculiar aos que têm propensão para o desengano".
III. "Não mais me referirei a estados de alma".
IV. "Mas sobretudo vivendo por conta própria".

Analisando-se os períodos acima sob a ótica da gramatica normativa, é valido asseverar que:

A) observamos, em I, o use impróprio da conjunção explicativa, que deveria ter sido grafada com acento circunflexo na vogal "e".
B) em II ocorreu concordância verbal inadequada.
C) no item Ill, a próclise foi empregada erroneamente, no caso, melhor seria o use da ênclise.
D) em IV o adverbio deveria ter sido intercalado por virgulas, pois denota ênfase.


CALENDÁRIO EMOCIONAL


Sabe aquele relógio que há dentro do celular e dos computadores, que mesmo que o aparelho esteja desligado mantêm o horário e a agenda atualizados? Nosso inconsciente é igual. Ele tem um calendário infalível, que faz com que tenhamos sensações ou pensamentos “comemorativos” de datas que sequer sabíamos que lembrávamos.

Quando somos tomados por uma tristeza incompreensível, um desânimo fora de sentido, um choro estranho, uma brabeza despropositada, enfim, algo aparentemente fora de lugar, talvez seja o tal “calendário emocional”. Algo pode estar sendo evocado nessa data. Sem ter consciência, fazemos o luto de aniversários de morte, de separação, da saída de um emprego, da partida de um filho, de um aborto ou qualquer outro evento significativo, duro ou doído. Todas as datas estão registradas em nosso relógio interno.

Para fazer você acreditar nisso, vou contar a história, que aconteceu com uma paciente, que foi surpreendente até para mim, mesmo depois de décadas de trabalho como psicanalista. Ela acordava todos os dias às três da manhã, depois demorava para dormir. Olhar o relógio e confirmar a infalibilidade do despertador interno só piorava as coisas. A sensação era de estar sendo vítima de um complô. Havia anos que quebrávamos a cabeça tentando entender o porquê dessa persistente repetição. Sua vida mudou e isso passou. Andávamos esquecidas do enigma, quando ela se pôs a falar sobre um período muito solitário e difícil em que, a trabalho, vivera na Coréia. Foi lá que essa maldição das três da manhã começou e, nas noites insones, costumava pensar que aqui eram três horas da tarde. Dessa vez, ao contar a história lembrou que durante sua infância, o pai, que era viajante e passava a semana fora, partia sempre aos domingos às três da tarde. Na sua ausência, minha paciente ficava à mercê da mãe, cuja agressividade se expressava principalmente com ela.

 A filha sabia que a saída do pai era o começo de uma jornada semanal de gritos e castigos. Muitos anos depois, soube-se que esse homem tinha duas famílias e, mesmo sem ter consciência disso, a filha intuía que sua partida era muito mais significativa do que se fosse apenas trabalhar. O hábito de despertar às três da madrugada, sentindo-se abandonada, como ocorria naquele lugar estrangeiro de fuso horário invertido, era um reencontro com a desolação que chegava quando ele partia.

Essa história lembra a força das moções internas que governam nossa vida. Elas serão tanto mais persistentes quanto menos tivermos acesso a seu significado. Podemos combater uma insônia como essa, por exemplo, usando uma medicação ou qualquer outro recurso. Mas não custa ir um pouco mais a fundo e descobrir o sentido oculto desses acontecimentos psíquicos, aparentemente bizarros. Decifrá-los possibilita que nos maravilhemos frente à eficácia da máquina psíquica que nos move. Sua precisão pode até ser assustadora, mas a familiaridade com sua lógica maluca possibilita que certas maldições deixem de nos assombrar.




6. "... que FAZ com que tenhamos sensações ou pensamentos “comemorativos” de datas que sequer sabíamos que lembrávamos."

Se o verbo enfatizado fosse substituido pela forma verbal FAZIA, a correta articulagao entre os tempos verbais na frase seria a representada em qual alternativa?

a) ... tivemos sensacões ou pensamentos "comemorativos" de datas que nem sequer sabíamos que lembrávamos.
b) ... tivessemos sensacões ou pensamentos "comemorativos" de datas que nem sequer saberíamos que lembrávamos.
c) ... tivéramos sensacões ou pensamentos "comemorativos" de datas que nem sequer souberamos que lembrávamos.
d) ... tinhamos sensacões ou pensamentos "comemorativos" de datas que nem sequer sabíamos que lembrávamos.
.


7. "Quando somos tomados por uma tristeza incompreensível, um desânimo fora de sentido, um choro estranho, uma brabeza despropositada, enfim, algo aparentemente fora de lugar"
Sobre o termo sublinhado, assinale a alternativa correta.
a) Morfologicamente classifica-se como adverbio de modo
b) No contexto em que esta inserido, poderia ser substituido pelo adverbio finalmente, sem que houvesse prejuizo de sentido.
c) Classifica-se como adjetivo e denota finalidade.
d) Trata-se de urn adverbio que, no contexto, foi utilizado para introduzir uma ideia de sintese ou resumo.

8. A autora compara nosso calendario emocional ao relogio que ha dentro do celular e dos computadores, no seguinte sentido:
a) os dois falham e nos deixam perdidos, diariamente.
b) existe, hoje, uma ligacao quase emocional entre homem e maquina.
c) ambos guardam informacoes que podem ser evocadas em momentos posteriores.
d) nosso calendario emocional, ao contrario do relOgio dos celulares e computadores, nao é capaz de conservar informacoes remotas.


9. Analise as proposicoes abaixo.
Apos anos de terapia, a paciente mencionada no texto e a autora, sua psicanalista, conseguiram concluir que a insonia daquela estava relacionada a urn período bastante turbulento, em que vivia na Coreia e era submetida, constantemente, a agressividade fisica e verbal dos pais.
Diana Corso adverte que as emogoes internas governam nossa vida, se assim o perrnitiirrnos e, por isso mesmo, recomenda que tenhamos o minimo acesso a elas e a seu significado.
A autora também  avalia que devemos combater a insonia usando medicações especificas, caminho mais eficaz e seguro do que tentar ir a fundo nas emocoes e desvendar-lhes o sentido oculto, que alem de, muitas vezes, bizarro, pode revelar maldições que passarão a nos assombrar em definitivo.
Esta em consonância corn o texto o que se afirmou:
a) em apenas uma das proposições.
b) em apenas duas das proposições.
c) nas três proposições apresentadas.
d) em nenhuma das proposicões elencadas.

10. No trecho abaixo, propositadamente, alterou-se a grafia de alguns vocabulos, de modo que passaram a nao estar registrados de acordo corn a gramatica normativa e o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa.
Faz alguma diferença para o comportamento das pessoas imaginar que Deus está monitorando suas ações e é capas de punir quem aje de forma contraria as regras morals? Bern, ja existe uma literatura cientifica consideravel relatando tentativas de investigar essa questão experimentalmente, e urn dos maiores estudos sobre o tema foi o mote desta reportagem recente que fiz para a edissão impressa da Folha. A resposta curta é: as pessoas parecem, de fato, ajir de um jeito um pouco mais honesto quando afirmam crer em divindades que monitoram e punem maufeitores — ao menos quando estão  lidando corn outras pessoas da mesma religião que elas.

Compilado de artigo de Reinaldo Jose Lopes - "Deus to vendo?" - jornal Folha de Sao Paulo, edicao de 15/2/15.

Para que o texto esteja em consonancia corn a norma culta da lingua, devera ser modificada a grafia de:
mais de seis vocábulos.
mais do que quatro e menos do que sete vocábulos.
menos de quatro vocábulos.
mais de sete e menos do que dez vocábulos.




ADVOGADO
1 C
2 A
3 C
4 D
5 A
6 B
7 D
8 C
9 D
10 B



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