PREFEITURA DE SANTOS
Balanço(*)
OTTO LARA RESENDE
Por que hei
de agradar o rude sofrimento e mais rude torná-lo, na desesperança? Por que
proclamar a tristeza inútil diante das coisas que secretamente e melhor
compreendo? Não falarei do desamparo que finamente aperta os dedos na garganta.
Não citarei o sentimento peculiar aos que têm propensão para o desengano e,
mais do que nunca, ao crepúsculo, sentem-se traídos e ultrajados sem motivo.
Não mais me referirei a estados de alma que nada contêm além de um vazio
cinzento e interminável, um abismo de sombra e de abstrato, onde a tristeza
rumina o seu cadáver.
Todos os
gestos seriam inúteis. Nada salva e tudo nos perde e atraiçoa. O temor sustenta
minhas interrogações e de repente me sinto só, perdidamente só e anterior a
todos, como se ninguém mais houvesse. Tudo desaparece na refração das águas da
memória. Vejo as imagens deformadas, mas que persistem, fantasmas íntimos. Rio
e já não entendo; choro e me dilacero lentamente no tempo em que tudo está
pesadamente mergulhado. Não grito porque o hábito se forma e o pudor defende.
Conheço e entendo. Algumas vezes adivinho, mas não devasso. O que sabe deve
calar-se para não ferir. Se digo, as palavras nada significam senão o prazer de
proferi-las e achá-las bem achadas, não para que exprimam, mas simples jogo
colorido que diverte. Não proporei normas, nem direi o que abomino. Deu-nos
Deus a palavra para melhor silenciar. No inarticulado, me descubro um homem,
com um nome, certos hábitos, fisionomia, alguns cacoetes e muitas
possibilidades. Mas sobretudo vivendo por conta própria. Foi um ato
irresponsável confiar-me a mim mesmo. Meu destino gira nos meus dedos. Não me
pertenço e nem me encontro. O tormento da lembrança, como cãibra, paralisa os
gestos e sobrepõe ao que é o que já foi. Calculadamente percorro o caminho da
fatalidade, onde os abismos espreitam e aguardam a imagem quebrada, e cem vezes
traída.
1. "Por que hei de agradar o rude
sofrimento e mais rude torna-lo, na desesperança?"
0 trecho acima foi reescrito
preservando-se o sentido original e respeitando o que preceitua a norma culta em qual alternativa?
Hei de agradar o rude sofrimento e
mais rude, torna-lo, na desesperança, porquê?
Hei de agradar o rude sofrimento e
mais rude, torna-lo, na desesperança, por que?
Hei de agradar o rude sofrimento e
mais rude, torna-lo, na desesperança, por quê?
Hei de
agradar porquê o rude sofrimento e mais rude toma-lo, na desesperança?
2. No primeiro paragrafo do texto,
Otto Lara Resende:
a) reconhece
que o desamparo o atingiu.
b) Propõe se
a debater o sofrimento peculiar daqueles que têm propensão para o desengano.
c) admite compreender melhor a
tristeza que por vezes o assombra, ao proclama-la ao mundo.
d) rejeita discussões
sobre estados de alma que representem algo mais do que um "vazio cinzento
e interminável
3. "Deu-nos Deus a palavra para
melhor silenciar".
A transposição do trecho acima para a
voz passiva resultara na forma verbal:
sendo-nos dada.
ser silenciada.
foi-nos dada.
fora silenciada.
4. Leia os períodos
a seguir.
I. "Por
que proclamar a tristeza inútil diante das coisas que secretamente e melhor
compreendo?"
II. "Não
citarei o sentimento peculiar aos que têm propensão para o desengano".
III. "Não
mais me referirei a estados de alma".
IV. "Mas
sobretudo vivendo por conta própria".
Analisando-se
os períodos acima sob a ótica da gramatica normativa, é valido asseverar
que:
A) observamos, em I, o use impróprio
da conjunção explicativa, que deveria ter sido grafada com acento circunflexo na vogal "e".
B) em II ocorreu concordância verbal
inadequada.
C) no item Ill, a próclise foi
empregada erroneamente, no caso, melhor seria o use da ênclise.
D) em IV o
adverbio deveria ter sido intercalado por virgulas, pois denota ênfase.
CALENDÁRIO EMOCIONAL
Sabe aquele relógio que há dentro do celular e dos
computadores, que mesmo que o aparelho esteja desligado mantêm o horário e a
agenda atualizados? Nosso inconsciente é igual. Ele tem um calendário
infalível, que faz com que tenhamos sensações ou pensamentos “comemorativos” de
datas que sequer sabíamos que lembrávamos.
Quando somos tomados por uma tristeza incompreensível, um
desânimo fora de sentido, um choro estranho, uma brabeza despropositada, enfim,
algo aparentemente fora de lugar, talvez seja o tal “calendário emocional”.
Algo pode estar sendo evocado nessa data. Sem ter consciência, fazemos o luto
de aniversários de morte, de separação, da saída de um emprego, da partida de
um filho, de um aborto ou qualquer outro evento significativo, duro ou doído.
Todas as datas estão registradas em nosso relógio interno.
Para fazer você acreditar nisso, vou contar a história, que
aconteceu com uma paciente, que foi surpreendente até para mim, mesmo depois de
décadas de trabalho como psicanalista. Ela acordava todos os dias às três da
manhã, depois demorava para dormir. Olhar o relógio e confirmar a
infalibilidade do despertador interno só piorava as coisas. A sensação era de
estar sendo vítima de um complô. Havia anos que quebrávamos a cabeça tentando
entender o porquê dessa persistente repetição. Sua vida mudou e isso passou.
Andávamos esquecidas do enigma, quando ela se pôs a falar sobre um período
muito solitário e difícil em que, a trabalho, vivera na Coréia. Foi lá que essa
maldição das três da manhã começou e, nas noites insones, costumava pensar que
aqui eram três horas da tarde. Dessa vez, ao contar a história lembrou que
durante sua infância, o pai, que era viajante e passava a semana fora, partia
sempre aos domingos às três da tarde. Na sua ausência, minha paciente ficava à
mercê da mãe, cuja agressividade se expressava principalmente com ela.
A filha sabia que a
saída do pai era o começo de uma jornada semanal de gritos e castigos. Muitos
anos depois, soube-se que esse homem tinha duas famílias e, mesmo sem ter consciência
disso, a filha intuía que sua partida era muito mais significativa do que se
fosse apenas trabalhar. O hábito de despertar às três da madrugada, sentindo-se
abandonada, como ocorria naquele lugar estrangeiro de fuso horário invertido,
era um reencontro com a desolação que chegava quando ele partia.
Essa história lembra a força das moções internas que
governam nossa vida. Elas serão tanto mais persistentes quanto menos tivermos
acesso a seu significado. Podemos combater uma insônia como essa, por exemplo,
usando uma medicação ou qualquer outro recurso. Mas não custa ir um pouco mais
a fundo e descobrir o sentido oculto desses acontecimentos psíquicos,
aparentemente bizarros. Decifrá-los possibilita que nos maravilhemos frente à
eficácia da máquina psíquica que nos move. Sua precisão pode até ser
assustadora, mas a familiaridade com sua lógica maluca possibilita que certas
maldições deixem de nos assombrar.
6. "... que FAZ
com que tenhamos sensações ou pensamentos “comemorativos” de datas que
sequer sabíamos que lembrávamos."
Se o verbo enfatizado fosse substituido pela forma verbal FAZIA, a correta articulagao entre os
tempos verbais na frase seria a representada em qual alternativa?
a) ... tivemos sensacões ou pensamentos "comemorativos" de datas
que nem sequer sabíamos que lembrávamos.
b) ... tivessemos sensacões ou pensamentos "comemorativos" de datas
que nem sequer saberíamos que lembrávamos.
c) ... tivéramos sensacões ou pensamentos "comemorativos" de datas
que nem sequer souberamos que lembrávamos.
d) ... tinhamos sensacões ou pensamentos "comemorativos" de datas
que nem sequer sabíamos que lembrávamos.
.
7. "Quando somos tomados por uma tristeza
incompreensível, um desânimo fora de sentido, um choro estranho, uma brabeza
despropositada, enfim, algo
aparentemente fora de lugar"
Sobre o termo sublinhado, assinale a
alternativa correta.
a) Morfologicamente classifica-se como
adverbio de modo
b) No contexto em que
esta inserido, poderia ser substituido pelo adverbio finalmente, sem que houvesse prejuizo de sentido.
c) Classifica-se como adjetivo e denota
finalidade.
d) Trata-se de urn adverbio que, no
contexto, foi utilizado para introduzir uma ideia de sintese ou resumo.
8. A autora compara nosso calendario emocional ao relogio que
ha dentro do celular e dos computadores, no seguinte sentido:
a) os dois falham e nos deixam
perdidos, diariamente.
b) existe, hoje, uma ligacao
quase emocional entre homem e maquina.
c) ambos guardam informacoes que
podem ser evocadas em momentos posteriores.
d) nosso calendario emocional,
ao contrario do relOgio dos celulares e computadores, nao é capaz de conservar informacoes
remotas.
9. Analise
as proposicoes abaixo.
Apos anos de terapia, a paciente
mencionada no texto e a autora, sua psicanalista, conseguiram concluir que a insonia daquela estava relacionada a urn período
bastante turbulento, em que vivia na Coreia e era
submetida, constantemente, a agressividade fisica e verbal dos pais.
Diana Corso adverte que as emogoes
internas governam nossa vida, se assim o perrnitiirrnos e, por isso mesmo, recomenda que tenhamos o minimo acesso a elas e a seu
significado.
A autora também avalia que devemos combater a insonia usando
medicações especificas, caminho mais eficaz e seguro
do que tentar ir a fundo nas emocoes e desvendar-lhes o sentido oculto, que
alem de, muitas vezes, bizarro, pode revelar maldições que passarão a nos
assombrar em definitivo.
Esta em consonância corn o texto o que se afirmou:
a) em apenas uma das proposições.
b) em apenas duas das proposições.
c) nas três proposições apresentadas.
d) em nenhuma das proposicões elencadas.
10. No trecho abaixo, propositadamente, alterou-se a grafia
de alguns vocabulos, de modo que passaram a nao estar registrados de acordo
corn a gramatica normativa e o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa.
Faz alguma diferença para o comportamento das pessoas
imaginar que Deus está monitorando suas ações e é capas de punir quem aje de forma contraria as
regras morals? Bern, ja existe uma literatura cientifica consideravel relatando tentativas
de investigar essa questão experimentalmente, e urn dos maiores estudos sobre o tema foi o mote
desta reportagem recente que fiz para a edissão impressa da Folha. A resposta curta é: as pessoas parecem,
de fato, ajir de um jeito um pouco mais honesto quando afirmam crer em divindades que monitoram e
punem maufeitores — ao menos quando estão lidando corn outras pessoas da mesma religião que elas.
Compilado de artigo de
Reinaldo Jose Lopes - "Deus to vendo?" - jornal Folha de Sao Paulo,
edicao de 15/2/15.
Para que o texto esteja em consonancia corn a norma culta da
lingua, devera ser modificada a grafia de:
mais de seis vocábulos.
mais do que quatro e menos do que sete
vocábulos.
menos de quatro vocábulos.
mais de sete e menos do que dez vocábulos.
ADVOGADO
1 C
2 A
3 C
4 D
5 A
6 B
7 D
8 C
9 D
10 B
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