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quinta-feira, 7 de novembro de 2019

CONTO O VAGABUNDO NA ESPLANADA 9º ANO TECENDO P.16


"O Vagabundo na Esplanada."


       A surpresa, de mistura com um indefinido receio e o imediato desejo de mais acautelada perspectiva de observação, levava os transeuntes a afastarem-se de esguelha para os lados do passeio.
        Pela clareira que se abria, o vagabundo, de mãos nos bolsos das calças, vinha, despreocupadamente, avenida abaixo.
       Cerca de cinquenta anos, atarracado, magro, tudo nele era limpo, mas velho e cheio de remendos. Sobre a esburacada camisola interior, o casaco, puído nos cotovelos e demasiado grande, caía-lhe dos ombros em largas pregas, que ondulavam atrás das costas ao ritmo lento da passada. Desfiadas nos joelhos, muito curtas, as calças deixavam à mostra as canelas, nuas, finas de osso e nervo, saídas como duas ripas dos sapatos cambados. Caído para a nuca, copa achatada, aba às ondas, o chapéu semelhava uma auréola alvacenta.
       Apesar de tudo isso, o rosto largo e anguloso do homem, de onde uns olhos azuis-claros irradiavam como que um sorriso de luminosa ironia e compreensivo perdão, erguia-se, intacto e distante, numa serena dignidade.
       Era assim, ao que se via, o seu natural comportamento de caminhar pela cidade.
       Alheado, mas condescendente, seguia pelo centro do passeio com a distraída segurança de um milionário que obviamente se está nas tintas para quem passa. Não só por educação mas também pelo simples motivo de ter mais e melhor em que pensar.
       O que não sucedia aos transeuntes. Os quais, incrédulos ao primeiro relance, se desviavam, oblíquos, deambulante causa do seu espanto. E à vista do que lhes parecia um homem livre de sujeições, senhor de si próprio em qualquer circunstância e lugar, logo, por contraste, lhes ocorriam todos os problemas, todos os compadrios, todas as obrigações que os enrodilhavam. E sempre submersos de prepotências, sempre humilhados e sempre a fingir que nada disso lhes acontecia.
       Num instante, embora se desconhecessem, aliava-os a unânime má vontade contra quem tão vincadamente os afrontava em plena rua. Pronta, a vingança surgia. Falavam dos sapatos cambados, do fato de remendos, do ridículo chapéu. Consolava-os imaginar os frios, as chuvas e as fomes que o homem havia de sofrer. No entanto, alguém disse:
       - Vê-se com cada sujeito.
        Um senhor vestido de escuro, de pasta negra e luzidia, colocada ostensivamente ao alto e bem segura sobre o braço arqueado, murmurou azedamente:
       - Que benefício trará tal criatura à sociedade?
      - Devia ser proibido que indivíduos destes andassem pela cidade.
       E assim, resmungando, se dispersavam, cada um às suas obrigações, aos seus problemas. Sem dar por tal, o homem seguia adiante.
        Junto dos Restauradores, a esplanada atraiu-lhe a atenção. De cabeça inclinada para trás, pálpebras baixas, catou pelos bolsos umas tantas moedas, que pôs na palma da mão. Com o dedo esticado, separou-as, contando-as conscienciosamente. Aguardou o sinal de passagem, e saiu da sombra dos prédios para o Sol da tarde quente de Verão.
 A meio da esplanada havia uma mesa livre. Com o à vontade de um frequentador habitual, o homem sentou-se.
      Após acomodar-se o melhor que o feitio da cadeira de ferro consentia, tirou os pés dos sapatos, espalmou-os contra a frescura do empedrado, sob o toldo. As rugas abriram-lhe no rosto curtido pelas soalheiras um sorriso de bem-estar.
       Mas o fato e os modos da sua chegada haviam despertado nos ocupantes da esplanada, mulheres e homens, uma turbulência de expressões desaprovadoras. Ao desassossego de semelhante atrevimento sucedera a indignação. Ausente, o homem entregava-se ao prazer de refrescar os pés cansados, quando um inesperado golpe de vento ergueu do chão a folha inteira de um jornal, e enrolou-lha nas canelas. O homem apanhou-a, abriu-a. Estendeu as pernas, cruzou um pé sobre o outro.
Céptico, mas curioso, pôs-se a ler.
       O facto, de si tão discreto, pareceu constituir a máxima ofensa para os presentes. Franzidos, empertigaram-se, circunvagando os olhos, como se gritassem:
 «Pois, não há um empregado que venha expulsar daqui este tipo!»  Nas caras, descompostas pelo desorbitado melindre, havia o que quer que fosse de recalcada, hedionda raiva contra o homem mal vestido e tranquilo, que lia o jornal na esplanada.
      Um rapaz aproximou-se. Casaco branco, bandeja sob o braço, muito senhor do seu dever. Mas, ao reparar no rosto do homem, tartamudeou:
     - Não pode...
      E calou-se. O homem olhava-o com atenta benevolência.
     - Disse?
     - É reservado o direito de admissão - tornou o rapaz, hesitando. - Está além escrito.
      Depois de ler o dístico, o homem, com a placidez de quem, por mera distracção, se dispõe a aprender mais um dos confusos costumes da cidade, perguntou:
     - Que direito vem a ser esse?
     - Bem...- volveu o empregado. - A gerência não admite... Não podem vir aqui certas pessoas.
     - E é a mim que vem dizer isso?
      O homem estava deveras surpreendido. Encolhendo os ombros, como quem se presta a um sacrifício, deu uma mirada pelas caras dos circunstantes.
O azul-claro dos olhos embaciou-se-lhe.
     -Talvez que a gerência tenha razão -concluiu ele, em tom baixo e magoado. - Aqui para nós, também me não parecem lá grande coisa.
    O empregado nem podia falar.
    Conciliador, já a preparar-se para continuar a leitura do jornal, o homem colocou as moedas sobre a mesa, e pediu, delicadamente:
      -Traga-me uma cerveja fresca, se faz favor. E diga à gerência que os deixe ficar. Por mim, não me importo.

Manuel da Fonseca in Tempo de Solidão. (1985)


Responda:
1. Qual o gênero textual?
a) crônica
b) fábula
c) conto
d) texto de opinião
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2. Qual a tipologia textual predominante?
a) descrição
b) injunção
c) dissertação
d) narração
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       Cerca de cinquenta anos, atarracado, magro, tudo nele era limpo, mas velho e cheio de remendos. Sobre a esburacada camisola interior, o casaco, puído nos cotovelos e demasiado grande, caía-lhe dos ombros em largas pregas, que ondulavam atrás das costas ao ritmo lento da passada. Desfiadas nos joelhos, muito curtas, as calças deixavam à mostra as canelas, nuas, finas de osso e nervo, saídas como duas ripas dos sapatos cambados. Caído para a nuca, copa achatada, aba às ondas, o chapéu semelhava uma auréola alvacenta.
       Apesar de tudo isso, o rosto largo e anguloso do homem, de onde uns olhos azuis-claros irradiavam como que um sorriso de luminosa ironia e compreensivo perdão, erguia-se, intacto e distante, numa serena dignidade.

3.  Qual a tipologia textual predominante?
a) descrição
b) injunção
c) dissertação
d) narração

4. Os elementos de uma narrativa são: enredo, narrador, personagem, espaço e tempo. Responda;
a) em que espaço acontece a história.
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b) quanto tempo durou esses acontecimentos?
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5. A estrutura de uma narrativa apresenta introdução, complicação, clímax e desfecho. A complicação é o surgimento de um problema. Que problema foi esse?
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6. O conto é narrado em 1ª ou 3ª pessoa? Destaque do texto elementos que justifiquem o foco narrativo indicado.
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7. Qual o tipo de linguagem predominante?
a) formal
b) informal
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8. Justifique.
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9. Qual o personagem principal?
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10. Qual os personagens secundários?
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11. Qual o tema abordado no conto?
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12. Leia o fragmento abaixo:

"Alheado, mas condescendente, seguia pelo centro do passeio com a distraída segurança de um milionário que obviamente se está nas tintas para quem passa. Não só por educação mas também pelo simples motivo de ter mais e melhor em que pensar.
       O que não sucedia aos transeuntes. Os quais, incrédulos ao primeiro relance, se desviavam, oblíquos, deambulante causa do seu espanto"

a) Qual a posição do personagem a respeito de quem o cercava?
...............................................................................................................................b) Qual a posição dos transeuntes/
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13. Retire um fragmento que comprove o preconceito dos que passavam em relação ao personagem.
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14.Relacione as palavras destacadas no texto com os significados.
Quase branco.................................................................................
Gasto de forma desigual...............................................................................
Que caminha sem direção.....................................................................
Letreiro..........................................................................
Embaçar................................................................................
Envolver.....................................................................................
Terreno plano.............................................................................
Despreocupado.........................................................................
Vergonha................................................................

Exposição ao sol.......................................................................



POR DENTRO DO TEXTO  PÁGINA 18

1.         Em quanto tempo você acha que a história se desenvolve? Justifique sua resposta.

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2.         Qual e o ambiente em que a história acontece?

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3.         Como podemos caracterizar o narrador de "O vagabundo na esplanada"? Justifique sua resposta.

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4.         Identifique o conflito do conto "O vagabundo na esplanada" e explique de que maneira ele foi solucionado. Você pode transcrever trechos do texto para justificar sua resposta.

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5.         Releia o trecho a seguir.

 

       Alheado. mas condescendente. seguia pelo centro do passeio com a distraída segurança de um milionário que obviamente se está nas tintas para quem passa. Não só por educação. mas também pelo simples motivo de ter mais e melhor em que pensar.

      O que não sucedia aos transeuntes. Os quais. incrédulos ao primeiro relance. se desviavam. oblíquos. da deambulante causa do seu espanto. [ ... ]

 

a)_ O que esse trecho revela a respeito do personagem?

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b)         É possível afirmar que há ironia quando o narrador diz que o personagem tinha "mais e melhor em que pensar". Por quê?

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6.         No que diz respeito à descrição que o narrador faz dos transeuntes, transcreva o trecho que revela o preconceito destes em relação ao personagem.

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7.         Releia este outro trecho.

 

A meio da esplanada havia uma mesa livre. Com o ã vontade de um frequentador habitual, o homem sentou-se.

 

a)         O que o comportamento do personagem revela sobre o modo como ele mesmo se via?

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b)         A expressão "a vontade" é geralmente empregada como a ojunto adverbial. Qual é a novidade quanto ao uso dessa expressão nesse texto?

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8.         No desfecho do conto, acontece a inclusão ou a exclusão do personagem? Quem é responsável por isso?

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9. Transcreva a afirmativa que caracteriza adequadamente o conto "O vagabundo na esplanada".

a)         Narrativa longa, em prosa, com muitos capítulos. Em cada capítulo, surgem personagens secundários que giram em torno de um personagem principal.

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b)         Narrativa breve. em prosa. Apresenta linguagem em que estão condensadas a força da expressão e a pluralidade de significados. Permite que o leitor faça a propia interpretação dos fatos narrados.

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c)         Texto poético, do tipo geralmente publicado em jornais e revistas. Mistura linguagem verbal e visual e conta uma historia real, cotidiana.

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LINGUAGEM DO TEXTO pág. 19

1. Releia a descrição do personagem.

       Cerca de cinquenta anos. atarracado. magro. tudo nele era limpo. Mas velho e cheio de remendos. Sobre a esburacada camisola interior. o casaco puído nos cotovelos e demasiado grande caía-lhe dos ombros em largas pregas. que ondulavam atrás das costas ao ritmo lento da passada. Desfiadas nos joelhos. muito curtas. as calças deixavam à mostra as canelas. nuas. finas de osso e nervo. saídas como duas ripas dos sapatos cambados. Caído para a nuca. copa achatada, aba às ondas. o chapéu semelhava uma auréola alvacenta.

       Apesar de tudo isso. o rosto largo e anguloso do homem. de onde os olhos azuis-claros irradiavam como que um sorriso de luminosa ironia e compreensivo perdão. erguia-se. in­tacto e distante. numa serena dignidade.

 

a) Pesquise as palavras desconhecidas do trecho e anote seu significado.

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b)O trecho que você releu é predominantemente narrativo, descritivo ou argumentativo?

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c) A que classe gramatical pertencem as palavras destacadas?

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d) Pelas vestes que usa, por sua aparência, o vagabundo passa uma imagem negativa para as pessoas que o veem. O conto confirma ou contradiz essa imagem que as pessoas fazem dele?

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e) Transcreva expressões ou frases do trecho que constroem uma imagem de dignidade e superio­ridade do vagabundo.

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Nos contos, o jogo de oposição de ideias e imagens pode construir sindicados originais.  Veia o caso do vagabundo desse conto apresenta-se miserável, mas também digno, superior as condições que manifestam sua miséria.  Assim, pela descrição dos aspectos físicos e psicológicos do personagem, o conto constrói um Jogo de opostos, fundamental para o sentido da historia.

 

2. O texto foi escrito por um autor português e traz palavras e construções que causam certo estra­nhamento por serem grafadas de modo diferente ou, ate mesmo, por não serem habituais na língua portuguesa falada no Brasil. Transcreva algumas dessas palavras ou expressões.

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Pág. 20

 

3.         Um dos recursos mais encantadores dos contos é a maneira como o autor constrói imagens empregando o sentido figurado. Interprete os trechos a seguir, retirados do conto de Manuel da Fonseca.

a)         "As rugas abriram-lhe no rosto curtido pelas soalheiras um sorriso de bem-estar."

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b)         "Mas o fato e os modos da sua chegada haviam despertado nos ocupantes da esplanada, mulheres e homens. uma turbulência de expressões desaprovadoras."

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c)         "O azul-claro dos olhos embaciou-se lhe.··

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TROCANDO IDEIAS

1. O conto "O vagabundo na esplanada" foi escrito por um autor português. Você acha que um autor brasileiro poderia ter narrado uma situação semelhante? Justifique sua resposta.

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2.         O que mais chamou sua atenção no conto?

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3.         Você já presenciou alguma situação de discriminação social? O que achou disso? Concorda, discorda ou concorda parcialmente? Justifique.

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Entendendo o conto: RESPONDA EM SEU CADERNO.

01 – O que gerou o conflito (problema) da narrativa?

02 – Qual é o enredo ou conflito da narrativa?

      Quando o homem pede a …..

03 – Que palavras do texto pode substituir a expressão “parar repentinamente”?

04 – Qual a causa ou motivo que levou o homem a se esconder para não debitar a dívida?

      05 – Qual é o cenário onde esta história se passa?

06 – Copie um trecho do texto que expresse ideia de humor.

07 – Copie do texto um trecho referente ao tempo cronológico.

08 – Quais são os personagens principais do texto?

09 – Quais são os personagens secundários?

10 – Com que finalidade o cronista nos propõe este conto?

11 – De que maneira o autor se expressa para finalizar sua história?

12 – A narrativa desta conto está em que pessoa verbal?

13 – Quais os tempos verbais predominantes nesta conto?

14 – O homem saiu do apartamento com qual objetivo e como ele estava?

15 – Qual o efeito cômico que o autor explora nesta situação corriqueira?

16 – Dividindo-se a narrativa em três partes, descreva com uma frase:

1 – A situação inicial: 

2 – O conflito (problema): 

3 – A resolução final: 

 

 


23 comentários:

  1. Olá, tudo bem? Gostei dos conteúdos, me ajudaram muito.Obrigada.

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  2. Boa noite!
    Gostei dos conteúdos,me ajudaram muito! Obrigada.

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  3. Muito obrigada professor, me ajudou bastante. Gratidão

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  4. Pode mim mandar a resposta ?? Se possível agora

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  5. Pode me pasar aa respostas Porfavor

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  6. Professor Pode me passar as respostas por favor

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  7. Bom seria as respostas manda por favor

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  8. Pode me manda as respostas por favor???

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  9. boa tarde. tem como enviar as respostas. obrigada.

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