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domingo, 10 de novembro de 2019

CARTA INTERPRETAÇÃO


A CARTA DE AMOR
          No momento em que Malvina ia por a frigideira no fogo, entrou a cozinheira com um envelope na mão. Isso bastou para que ela se tornasse nervosa. Seu coração pôs-se a bater precipitadamente e seu rosto se afogueou. Abriu-o com gesto decisivo e extraiu um papel verde-mar, sobre o qual se liam, em caracteres enérgicos, masculinos, estas palavras: “Você será amada…”.
        Malvina empalideceu, apesar de já conhecer o conteúdo dessa carta verde-mar, que recebia todos os dias, havia já uma semana. Malvina estava apaixonada por um ente invisível, por um papel verde-mar, por três palavras e três pontos de reticências. “Você será amada…”. Há uma semana que vivia como ébria.
          Olhava para a rua, e qualquer olhar de homem que se cruzasse com o seu, lhe fazia palpitar tumultuosamente o coração. Se o telefone tilintava, seu pensamento corria célere: talvez fosse “ele”. Se não conhecesse a causa desse transtorno, por certo Malvina já teria ido consultar um médico de doenças nervosas. Mandara examinar por um grafólogo a letra dessa carta. Fora em todas as papelarias à procura desse papel verde-mar e, inconscientemente, fora até ao correio ver se descobria o remetente no ato de atirar o envelope na caixa.
         Tudo em vão. Quem escrevia, conseguia manter-se incógnito. Malvina teria feito tudo quanto ele quisesse. Nenhum empecilho para com o desconhecido. Mas para que ela pudesse realizar o seu sonho, era preciso que ele se tornasse homem de carne e osso. Malvina imaginava-o alto, moreno, com grandes olhos negros, forte e espadaúdo!
        O seu cérebro trabalhava: seria ele casado? Não, não o era. Seria pobre? Não podia ser. Seria um grande industrial? Quem sabe?
          As cartas de amor, verde-mar, haviam surgido na vida de Malvina como o dilúvio, transtornando-lhe o cérebro.
        Afinal, no décimo dia, chegou a explicação do enigma. Foi uma coisa tão dramática, tão original, tão crível, que Malvina não teve nem um ataque de histerismo, nem uma crise de cólera. Ficou apenas petrificada.
          “Você será amada… se usar, pela manhã, o creme de beleza Lua Cheia. O creme Lua Cheia é vendido em todas as farmácias e drogarias. Ninguém resistirá a você, se usar o creme Lua Cheia.
          Era o que continha o papel verde-mar, escrito em enérgicos caracteres masculinos.
          Ao voltar a si, Malvina arrastou-se até ao telefone:
           – Alô! É Jorge quem está falando? Já pensei e resolvi casar-me com você. Sim, Jorge, amo-o! Ora, que pergunta! Pode vir.
           A voz de Jorge estava rouca de felicidade!
           E nunca soube a que devia tanta sorte!
( André Sinoldi )



1. Substitua as palavras destacadas por sinônimos:
a) Seu rosto se afogueou.
b) Seu pensamento corria célere.
c) Quem escrevia, conseguia manter-se incógnito.
d) Afinal, chegou a explicação do enigma.
    e) Malvina arrastou-se até ao telefone.
f) Seu coração pôs-se a bater precipitadamente.
g) Ficou apenas petrificada.
2. Quem é o protagonista do texto lido?
3. Identifique a frase do texto que revela, com clareza, que Malvina reagia alucinadamente.
4. Que frase do texto revela que Malvina, se encontrasse o autor das cartas, lhe seria submissa?
5. Qual é o elemento gerador do conflito nesta história?
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Gabarito
1. a) corou       b) veloz, ligeiro     c) escondido      d) mistério      e) dirigiu      f) aceleradamente       g) paralisada
2. Malvina
3. “Há uma semana que vivia como ébria.”
4. “Malvina teria feito tudo quanto ele quisesse. Nenhum empecilho para o desconhecido.”
5. A carta anônima.

A CARTA

        Esta outra história é de dois namorados, ele chamado Haroldo e ela, por coincidência, Marta. Os dois brigaram feio, e Marta escreveu uma carta para Haroldo, rompendo definitivamente o namoro e ainda dizendo uma verdade que ele precisava ouvir. Ou, no caso, ler. Mas Marta se arrependeu do que tinha escrito e no dia seguinte fez plantão na calçada em frente do edifício de Haroldo, esperando o carteiro. Precisava interceptar a carta de qualquer jeito. Quando o carteiro apareceu, Marta fingiu que estava chegando ao edifício e perguntou:
         − Alguma coisa para o 702? Eu levo.
      
  Mas não tinha nada para o 702. No dia seguinte tinha, mas não a carta de Marta. No terceiro dia, o carteiro desconfiou, hesitou em entregar a correspondência a Marta, que foi obrigada a fazer uma encenação dramática. Não era do 702. Era a autora de uma carta para o 702. E queria a carta de volta. Precisava daquela carta. Era importantíssimo ter aquela carta. Não podia dizer por quê. Afinal, a carta era dela mesma, devia ter o direito de recuperá-la quando quisesse! O carteiro disse que o que ela estava querendo fazer era crime federal, mas mesmo assim olhou os envelopes do 702 para ver se entre eles estava a carta. Não estava. No dia seguinte – quando Marta ficou sabendo que o carteiro se chamava Jessé e, apesar de tão jovem, já era viúvo, além de colorado – também não. No outro dia também não, e o carteiro convidou Marta para, quem sabe, um chope. Na manhã depois do chope, a carta ainda não tinha chegado a Marta e Jessé combinaram ir ver Titanic juntos. No dia seguinte – nem sinal da carta – Jessé perguntou se Marta não queria conhecer sua casa. Era uma casa pobre, morava com a mãe, mas, se ela não se importasse... Marta disse que ia pensar.
        No dia seguinte, chegou à carta. Jessé deu a carta a Marta. Ela ficou olhando o envelope por um longo minuto. Depois a devolveu ao carteiro e disse:
         Entrega.
        E, diante do espanto de Jessé, explicou que só queria ver se tinha posto o endereço certo.

             Luis Fernando Verissimo
        
Vocabulário:
Colorado: torcedor do Internacional, time de futebol de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

Atividades: 

1.Complete com os elementos da narrativa:
Personagens

Cenário

Tempo

Foco narrativo

Situação Inicial


Conflito


Desenvolvimento


Clímax


Desfecho


2. O carteiro desconfia do comportamento de Marta. 
a)Qual é a reação dela diante desse fato? 


b) Como o carteiro se comporta diante da reação da moça?


3. Como, provavelmente, Marta obteve as informações sobre Jessé?


4.O que fica subentendido sobre o sentimento entre as personagens nesse momento?


5.Qual alternativa poderia substituir as reticências do seguinte frase: "se ela não se importasse...".
(    ) eu vou  gostar muito de recebê-la.
(    )em visitar uma casa simples e humilde, ele ficaria feliz.
(    ) ele não a convidaria mais.
     (    ) sua mãe queria conhecê-la.

6.No final, o leitor é surpreendido pela decisão de Marta de mandar Jessé entregar a carta.
a) Por que, na sua opinião, ela toma essa decisão?

b)  Por que Jessé se espanta com a atitude dela?


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