CRÔNICA - A PALAVRA
Tanto que tenho falado, tanto que tenho
escrito como não imaginar que, sem querer, feri alguém? Às vezes sinto, numa
pessoa que acabo de conhecer, uma hostilidade surda, ou uma reticência de
mágoas. Imprudente ofício é este, de viver em voz alta.
Às vezes, também a gente tem o consolo
de saber que alguma coisa que se disse por acaso ajudou alguém a se reconciliar
consigo mesmo ou com a sua vida de cada dia; a sonhar um pouco, a sentir uma
vontade de fazer alguma coisa boa.
Agora sei que outro dia eu disse uma
palavra que fez bem a alguém. Nunca saberei que palavra foi; deve ter sido
alguma frase espontânea e distraída que eu disse com naturalidade porque senti
no momento – e depois esqueci.
Tenho uma amiga que certa vez ganhou um
canário, e o canário não cantava. Deram-lhe receitas para fazer o canário
cantar; que falasse com ele, cantarolasse, batesse alguma coisa ao piano; que
pusesse a gaiola perto quando trabalhasse em sua máquina de costura; que
arranjasse para lhe fazer companhia, algum tempo, outro canário cantador; até
mesmo que ligasse o rádio um pouco alto durante uma transmissão de jogo de
futebol... mas o canário não cantava.
Um dia a minha
amiga estava sozinha em casa, distraída, e assobiou uma pequena frase melódica
de Beethoven – o canário começou a cantar alegremente. Haveria alguma secreta
ligação entre a alma do velho artista morto e o pequeno pássaro de ouro?
Alguma coisa que eu disse distraído
– talvez palavras de algum poeta antigo – foi despertar melodias esquecidas
dentro da alma de alguém. Foi como se a gente soubesse que de repente, num
reino muito distante, uma princesa muito triste tivesse sorrido. E isso fizesse
bem ao coração do povo; iluminasse um pouco as suas pobres choupanas e as suas
remotas esperanças.
A Palavra, Rubem Braga. Disponível em: https://cronicabrasileira.org.br/cronicas/11536/a-palavra
acesso em 20/04/02021.
1. A frase que melhor expressa a
ideia principal do texto é:
a) Por
acaso, a palavra ajuda.
b) Pela palavra vivemos em voz
alta.
c) Sem querer a palavra fere.
d) Sempre a palavra é perigosa.
e) Sempre a palavra é impiedosa.
2. O texto pode ser dividido em
três partes: introdução, desenvolvimento e conclusão, e cada parte tem uma
ideia principal que recebe um título. A introdução compreende o primeiro e
segundo parágrafos; o título mais adequado a esse trecho é:
a) Uma palavra que faz bem.
b) Uma comparação.
c) Os
efeitos das palavras.
d) Uma analogia.
e) Uma palavra que surpreende.
3. “Às vezes sinto, numa pessoa
que acabo de conhecer, uma hostilidade surda, ou uma reticência de mágoas.” Sentir,
numa pessoa, uma reticência de mágoas, significa que a pessoa:
a) confessa timidamente que foi
magoada.
b)
demonstra pouca mágoa sem dizer nada.
c) interrompe o que estava
dizendo, magoada.
d) mantém-se constantemente
calada.
e) mantém-se constantemente
alerta.
4. “Imprudente ofício é este...” O cronista, na
citação acima, usa o adjetivo imprudente para qualificar seu ofício porque:
a) é obrigado a viver em voz
alta.
b) pode
ferir alguém.
c) tem de escrever muito.
d) pode ajudar alguém.
e) tem de conhecer inúmeras
palavras.
5. No texto, o ofício de cronista
é definido como um ofício “de viver em voz alta”. Isso significa que, para
Rubem Braga, escrever crônicas é:
a) ser conhecido por todo mundo.
b) não conseguir esconder nada de
ninguém.
c) contar aos outros suas
experiências pessoais.
d)
escrever tudo o que pensa e sente.
e) falar apenas das coisas do
cotidiano.
6. “Agora sei que outro dia eu
disse uma palavra que fez bem a alguém.” A palavra destacada pode ser
substituída no texto, por:
a) dia.
b) alguém.
c) outro.
d)
palavra.
e) agora.
7. “... e assobiou uma pequena frase melódica de
Beethoven...” A mesma regra que justifica a acentuação da palavra melódica
justifica a acentuação de:
a)
máquina.
b) distraída.
c) espontânea.
d) canário.
e) alguém.
8. “... e o canário COMEÇOU A CANTAR
alegremente.” A forma verbal destacada expressa ideia de fato:
a) inacabado no momento em que é
narrado.
b) passado anterior a outro
também passado.
c) incerto, duvidoso.
d) supostamente concluído.
e)
concluído.
01 – Assinale a
alternativa correta que indica inferência em relação a crônica de
Rubem Braga.
a) Somente
pessoas tristes é que despertam com melodias esquecidas dentro da alma de
alguém.
b) As palavras
têm, às vezes, o poder de nos irritar em qualquer etapa da vida.
c) As nossas
remotas esperanças precisam de um sorriso de princesa que vive num reino muito
distante.
d) À
semelhança da narrativa do autor, determinada palavra pode nos remeter ao
passado e trazer momentos de alegria na vida.
e) Pessoas que
não sabem viver em voz alta são hostis e cheias de mágoas, por isso uma frase
espontânea não lhe faz bem algum.
02 – O cronista qualifica
seu ofício de “imprudente”. O ofício de cronista é imprudente porque:
a) É
obrigado a viver em voz alta.
b) Tem de
escrever muito.
c) Pode ferir
alguém.
d) Pode ajudar
alguém.
03 – Observe o seguinte
fato ocorrido no texto: “Minha amiga assobiou uma pequena frase melódica de
Beethoven”. A consequência desse fato foi que:
a) O autor ficou
distraído.
b) O cronista
ajudou alguém a se reconciliar consigo mesmo.
c) O
canário começou a cantar alegremente.
d) Uma princesa
que estava triste, sorriu.
04 – Melodias é
uma metáfora usada no texto para representar:
a) Uma
canção esquecida.
b) Coisas boas,
sonhos.
c) Palavras
espontâneas, amigas.
d) Palavras de
algum poeta antigo.
05 – A frase que expressa a
ideia principal da crônica é:
a) Sem querer, a
palavra fere.
b) Por acaso, a
palavra ajuda.
c) Pela
palavra, vivemos em voz alta.
d) Sempre a
palavra é perigosa.
06 – Segundo o texto, sentir numa
pessoa uma reticência de mágoas significa que a pessoa:
a) Confessa
timidamente que foi magoada.
b) Demonstra
mágoa sem dizer nada.
c) Interrompe
o que estava dizendo, magoada.
d) Manifesta
indiferença.
07 – Para o autor Rubem
Braga, escrever crônicas é:
a) Ser conhecido
por todo mundo.
b) Não
conseguir esconder nada de ninguém.
c) Contar aos
outros suas experiências pessoais.
d) Escrever tudo
o que pensa e sente.
08 – Nos dois
primeiros parágrafos, o cronista fala dos efeitos da palavra que tanto
pode ferir, como ajudar.
a) Gerar
mágoas ou levar alguém a se reconciliar consigo mesmo.
b) Levar alguém
a sentir vontade de fazer algo bom.
c) Gerar
hostilidade em alguém.
d) Gerar
tristeza e revolta em alguém.
09 – “Agora sei que outro
dia eu disse uma palavra que fez
bem a alguém”. As palavras sublinhadas no período acima exercem,
respectivamente, a função sintática de:
a) Sujeito
– Objeto indireto.
b) Sujeito –
Objeto direto.
c) Sujeito –
complemento nominal.
d) Adjunto
adnominal – sujeito.
10 – “Minha amiga assobiou uma
pequena frase melódica de Beethoven”. O sujeito da oração acima é:
a) Minha
amiga.
b) Beethoven.
c) Uma pequena
frase.
d) Frase
melódica.
11 – Imprudente ofício é este, de
viver em voz alta. O ofício a que Rubem Braga se refere é o seu próprio, o de
escritor. Para caracterizá-lo, além do adjetivo “imprudente”, ele recorre a uma
metáfora: “Viver em voz alta”. O sentido dessa metáfora relativa ao ofício de
escrever, pode ser entendido como:
a) Superar
conceitos antigos.
b) Prestar
atenção aos leitores.
c) Criticar
prováveis interlocutores.
d) Tornar
públicos seus pensamentos.
12 – Alguma coisa que eu disse
distraído – talvez palavras de algum poeta antigo – foi despertar melodias
esquecidas dentro da alma de alguém. O cronista revela que sua fala ou escrita
pode conter algo escrito por “algum poeta antigo”. Ao fazer essa revelação, o
cronista se refere ao seguinte recurso:
a) Polissemia.
b) Pressuposição.
c) Exemplificação.
d) Intertextualidade.
13 – O episódio do canário traz
uma contribuição importante para o sentido do texto, ao estabelecer uma
analogia entre a palavra do escritor e a música assobiada pela amiga. A
inserção desse episódio no texto reforça a seguinte ideia:
a) A
intolerância leva o artista ao isolamento.
b) A
arte atinge as pessoas de modo inesperado.
c) A solidão é
remediada com soluções artísticas.
d) A profissão
envolve o artista com conflitos desnecessários.
14 – O final do texto revela uma
reflexão do escritor acerca do poder da sua escrita, a partir da menção a uma
princesa e a um povo. Essa menção sugere, principalmente, que o escritor deseja
que suas palavras tenham o poder de:
a) Desfazer as
ilusões antigas.
b) Permear
as classe sociais.
c) Ajudar as
pessoas discriminadas.
d) Abolir as
hierarquias tradicionais.
Suas atividades são muito criativas e por vezes tem me salvado no dia a dia. Muito obrigada pela sua contribuição.
ResponderExcluir