CONTO A PORTA BERTA
INTERPRETAÇAÕ
FONTE: Costa,
Cibele Lopresti, Geração Alpha Língua portuguesa: ensino fundamental: anos
finais: 7ºano-2ª ed. - São Paulo: Edições SM, 2018.
O conto que
você vai ler agora foi escrito pelo britânico Saki. Considerado um mestre nesse
gênero. Suas narrativas são, muitas vezes, dotadas de tom macabro e desfechos
surpreendentes. Em a Porta Aberta, não é diferente. Ela narra a história de Framom
Nuttel , um homem que viaja para um retiro rural para passar por um tratamento
de nervos, no entanto ao chegar em seu destino, depara-se com pessoas de
hábitos estranhos. Como você imagina que ele será recebido pelos moradores
desse lugar?
A PORTA ABERTA
SAKI
(Hector Hugh Munro -1870 ✟1916)
— Minha tia já
vai descer, sr. Nuttel — disse uma jovem dama de 15 anos, muito segura de si. —
Enquanto isso, o senhor terá de me aturar.
Framton Nuttel
procurava dizer algo apropriado que lisonjeasse devidamente a sobrinha no
momento sem indevidamente menosprezar a tia de logo mais. De si para si
duvidava, mais do que nunca, que visitas de cortesia, como essa, a uma série de
pessoas estranhas, beneficiassem muito o tratamento de nervos a que pretendiam
submetê-lo.
— Já sei como
vai ser a coisa — dissera-lhe a irmã quando ele preparava sua retirada para
aquele recanto de província. — Você vai-se enterrar ali sem falar a vivalma, e
vai-se aborrecer tanto que os seus nervos ficarão piores do que nunca. Pelo
sim, pelo não dou-lhe umas cartas de recomendação para todas as pessoas do
lugar minhas conhecidas. Algumas delas, ao que me lembro, são bem agradáveis.
Framton
perguntava a si mesmo, agora, se a sra. Sappleton, a quem vinha apresentar uma
daquelas cartas, pertencia ao grupo agradável.
— O senhor
conhece muita gente aqui? — perguntou a sobrinha quando julgou que já tinham
tido entre si bastante silêncio.
— Quase ninguém
— respondeu Framton. — Minha irmã passou aqui algum tempo na reitoria, há uns
quatro anos, e deu-me cartas de apresentação para várias pessoas daqui.
Estas últimas
palavras foram pronunciadas em tom de manifesto pesar.
— Então o senhor
não sabe praticamente nada a respeito de minha tia? — perguntou a jovem dama,
segura de si.
— Nada, a não
ser o nome e o endereço — reconheceu o visitante.
Nem sabia se a Sra.
Sappleton era casada ou viúva. Um não sei quê indeterminável parecia sugerir a
existência de homens na casa.
— Pois a grande tragédia
dela ocorreu há três anos — declarou a menina —, quer dizer, após a visita da irmã do
senhor.
— Tragédia? —
perguntou Framton.
Naquele cantinho
tranquilo de província parecia não haver lugar para tragédias.
— O senhor
poderia perguntar por que deixamos esta porta-janela aberta numa tarde de
outubro — disse ela, indicando uma larga porta que dava sobre um relvado.
— Está muito
quente para a estação — observou Framton —, mas será que essa porta tem algo
que ver com o drama?
— Foi por ela
que, há três anos menos um dia, o marido de minha tia e seus dois jovens irmãos
saíram para a caça. Nunca voltaram. Ao atravessarem o brejo para chegar ao seu
lugar favorito, onde costumavam caçar narcejas, os três foram tragados por um
pântano traiçoeiro. Naquele ano o verão tinha sido muito úmido, o senhor sabe,
e trechos seguros do caminho em outros anos cediam de repente sem dizer
água-vai. E — o que há de mais horrível — os corpos nunca foram encontrados.
Aqui a voz da
menina perdeu o tom firme e tornou-se hesitante, humana:
— A pobrezinha
da titia sempre pensa que eles um dia voltarão, eles e o pequeno sabujo
castanho que com eles se perdeu, e vão entrar pela porta, como habitualmente
faziam. É por isso que a deixam aberta todas as tardes, até o cair do crepúsculo.
Pobre titia! Mais de uma vez me contou como eles foram embora, seu marido com o
impermeável branco sobre o braço, e Ronnie, seu irmão mais moço, cantando
“Bertie, por que estás pulando?”, com que habitualmente a agastava, porque ele
dizia que aquilo a irritava muito. Sabe? Às vezes, em noites tranquilas,
silenciosas como esta, eu tenho uma espécie de calafrio: parece-me que os vejo
todos entrar por aquela porta.
Interrompeu-se,
com um leve tremor. Foi para Framton verdadeiro alívio quando a tia irrompeu no
salão multiplicando desculpas por não haver aparecido antes.
— Espero que
Vera o tenha divertido — disse.
— A conversa
dela tem sido muito interessante — declarou Framton.
— Espero que a porta aberta não o esteja
incomodando — disse a sra. Sappleton com vivacidade. — Meu marido e meus irmãos
vão chegar da caçada, e eles sempre entram por aqui. Hoje foram caçar narcejas
no paul, e vão sujar completamente os meus pobres tapetes. São coisas de homem,
não é?
Continuou a
tagarelar sobre a casa e a escassez de aves e as perspectivas de haver patos no
inverno. Para Framton tudo aquilo era simplesmente horrível. Fez um esforço
desesperado, mas só em parte bem-sucedido, a fim de encaminhar a conversa a
outro assunto menos horroroso; sentia que a dona da casa só lhe consagrava
parte de sua atenção, pois seus olhares iam, sem parar, em direção à porta
aberta e ao relvado. Fora, na verdade, uma coincidência infeliz que o trouxera
àquela casa precisamente naquele aniversário trágico.
— Os médicos são
unânimes em me aconselhar repouso absoluto, abstenção de qualquer excitação
mental e de qualquer exercício físico de certa violência — anunciou Framton,
que sofria da ilusão, muito espalhada, de que pessoas de todo estranhas a nós,
ou conhecidas por acaso, ficam ávidas de conhecer até os mínimos pormenores de
nossas doenças e enfermidades, de sua causa e seu tratamento. — Eles só não
estão de acordo quanto ao regime —
acrescentou.
— Não? —
perguntou a sra. Sappleton num tom que ainda em tempo substituiu um bocejo.
Depois, de
repente, seu rosto se aclarou num ar de atenção, mas não àquilo que Framton
dizia.
— Afinal
chegaram! — exclamou. — Justo à hora do chá. Mas não vê que estão cheios de
lama até os olhos?
Framton
estremeceu de leve e voltou-se para a sobrinha com um olhar destinado a
comunicar-lhe uma compreensiva solidariedade. A mocinha estava com os olhos
fixos na porta, cheios de horror e estupefação. Num frio choque de medo
inominável, Framton virou-se na sua poltrona e olhou para a mesma direção.
No crepúsculo
cada vez mais escuro três vultos atravessavam o relvado em direitura à porta;
os três sobraçavam espingardas, e um deles tinha também uma capa branca,
pendente de um dos ombros. Um sabujo castanho, cansado, seguia-lhe as pegadas.
Sem barulho chegaram à casa, até que uma voz moça e rouca se pôs a cantar no
lusco-fusco: — “Bertie, por que estás pulando?”
Framton agarrou
compulsivamente a bengala e o chapéu; a porta do vestíbulo, o passeio de
cascalho e o portão da frente foram as etapas confusamente notadas de sua
precipitada fuga. Um ciclista que vinha pela estrada teve de se encostar à
cerca para evitar uma colisão.
— Chegamos,
querida — disse o da capa branca entrando pela porta. — Estamos cheios de lama,
mas quase toda seca. Mas quem foi que fugiu daqui à nossa chegada?
— Um homem
esquisitíssimo, um certo sr. Nuttel — disse a sra. Sappleton. — Só sabia falar das próprias doenças, e
sumiu sem uma palavra de adeus ou de desculpa quando vocês entraram. Dir-se-ia
que viu um fantasma.
— Parece-me que
foi o sabujo — disse calmamente a sobrinha. — Ele me contou que tinha horror a
tudo quanto é cachorro. Certa vez foi perseguido, num cemitério lá nas margens
do Ganges, por uma matilha de cães párias, e teve de passar a noite numa cova
recém-aberta, com os bichos a rosnar, a espumar, a arreganhar os dentes para
ele. O bastante para a gente ficar com os nervos abalados. Ela estava-se
especializando em improvisar histórias.
1. A recepção dos moradores ao senhor Nuttel foi aquela que
você havia imaginado?
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2. No início do conto, sabemos da viagem que Framton Nuttel
faz para um retiro rural e da visita à Sr. Sappleton.
a) O que leva o sr. Nuttel a fazer essa viagem?
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b) Por quê ele foi visitar a sr. Sappletoon?
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c) Como o sr. Nuttel se sente ao chegar à casa da sra.
Sappleton? Identifique no texto um trecho que comprove sua resposta.
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3. Em que espaço a história acontece/
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4. Em que período de tempo ocorrem as ações narradas?
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5. Releia o início do conto:
“ _ Minha tia já vai descer, sr nuttel _ Disse uma mocinha
de quinze anos muito senhora de si. _ enquanto isso, o senhor pode ir me
aguentando.”
a) Qual o significado da expressão senhora de si?
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b) O que essa expressão antecipa sobre a personalidade da
personagem Vera e que o leitor percebe ao longo do conto?
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c) No segundo paragrafado do conto, identifique três expressões que revelam ao
leitor que o sr. Nuttel tem uma personalidade oposta á de Vera.
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6. Sobre as personagens do conto, responda as questões.
a) quais são as principais personagens desse conto?
Descreva-as.
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b) No início da narrativa, Vera parece ser uma garota
acolhedora. Essa impressão sobre a personagem se mantém ao final da leitura?
Explique.
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7.No caderno indique as alternativas verdadeiras(V) e as
falsas(F) a respeito do conto.
a) A Sra. Sappleton
nega a morte do marido e dos irmãos; por isso a porta da casa fica o tempo
todo aberta.
b) Ela deixa a porta aberta, pois os familiares vão retornar
de uma caçada.
c) O Sr. Nuttel decide viajar para o campo para cuidar da
saúde , mas não gosta das pessoas que o recebem no local.
d) O Sr. Nuttel vai viver na zona rural para fugir de uma
perseguição de um bando de vira-latas que prejudica os nervos dele.
8. Em geral, nos contos, há um momento em que a tensão da
narrativa alcança seu auge. Que trecho corresponde a esse momento no conto
lido. Explique.
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ANOTE AÍ
No conto, o conflito torna-se cada vez mais tenso, até
atingir seu auge. É o que chamamos de clímax, ou seja, o momento em que o
interesse e a expectativa do leitor pelo que acontecerá em seguida se elevam ao
máximo, anunciando o desfecho.
GABARITO:
1. Resposta
pessoal Professor, aproveite este momento para, além de verificar a hipótese
levantada antes da leitura, perguntar se a turma gostou ou não do conto Dessa
forma, e possível ter um breve diagnóstico das experiências de leitura dos
alunos
2.
a) Um tratamento de nervos.
b) Porque sua irmã recomendou que ele entregasse uma carta de
apresentação à Sra. Sappleton
c) Pela irmã
d) Ele se sente
desconfortável "Framton Nuttel se esforçou por dizer algo adequado".
3. Na casa da Sra.
Sappleton, em uma região rural.
4. Em uma tarde
5.
a) Significa que a pessoa é segura, tem certeza do que sabe e
de como deve agir.
b) A
autoconfiança de Vera
c) As expressões
se esforçou, duvidava e supostamente mostram o modo como o sr. Nuttel é inseguro
e pessimista.
6. a) Vera, Sra.
Sappleton e sr Nuttel Vera é uma adolescente autoconfiante e inventiva. Sra.
Sappleton é cordial Sr. Nuttel, por sua vez, é pouco sociável, inseguro e sofre
dos nervos.
b) Não No fim da história, o leitor conhece o verdadeiro
interesse de Vera: não era o de acolher o visitante, mas o de lhe pregar uma
peça ou até mesmo de afastá-lo
7.
a) F
b)V
c)V
d)F
8. No conto
lido, o trecho que corresponde a esse momento é quando o marido e os irmãos da
sra. Sappleton atravessam o gramado rumo à porta, todos SUJOS de lama, voltando
da caçada. Assustado, o sr. Nuttel foge.
PAGINA 28
9.De acordo com
Vera, o que houve com a família de sua tia? A história contada por ela
ao sr. Nuttel se confirma no desfecho? Justifique
10.No conto,
"porta aberta" tem diferentes significados. No caderno, relacione as
afirmativas aos nomes, de acordo com o que a expressão "porta aberta"
significa para cada personagem.
I. A porta
aberta é o local por onde os familiares da sra Sappleton, Já mortos,
podem passar a
qualquer momento
II. A porta
aberta permite avistar a família que volta da caça
IlI. A porta
aberta inspira a mação de uma história inusitada
a) Vera
b)Sra Sappleton
c)Sr Nuttel
O FOCO NARRATIVO
11. Qual é o foco narrativo desse conto?
Justifique com trechos do texto.
12. Quais são as características do narrador
dessa história?
13. Releia o trecho a seguir e responda às
questões
Frampton se perguntava
,e d sra Sappleron. a dama d quem ia entregar urna da, cartas de apresentação.
esta, a no grupo da, agradáveis
- O senhor
conhece muita gente aqui da, redondeza,' - perguntou a sobrinha. quando Julgou
que Já tinham ficado tempo bastante em silêncio
- Quase ninguém
- disse Framton - lminha irmã passou um tempo aqui, sabe, na casa paroquial. um
quatro anos atrás e me deu cartas de apresentação par d alguma, d,is pessoas
daqui
A escolha do foco
narrativo determina o tipo de narrador isto é, a voz que contará a historia
Existem dois tipos de foco narrativo
Em primeira
pessoa quando a narrativa e contada pela voz de um narrador que participa da
história, um narrador-personagem
Em terceira
pessoa quando a história é contada pela voz de um narrador que não participa
dos acontecimentos Ele pode se mostrar como um narrador onisciente, quando
revela aos leitores as ações, os sentimentos e os pensamentos das personagens,
ou um narrador observador, quando não participa dos acontecimentos e
adota uma perspectiva mais neutra e que parece imparcial
'----
14.Como podemos classificar o
narrador do conto "A porta aberta", onisciente ou observador? Justifique
sua resposta com trechos do conto.
GABARITO
15.No conto, há duas narrações. A principal, da visita do sr.
Nuttel, e a secundária, do caso inventado por Vera. Sobre essa narrativa
secundária, indique no caderno a alternativa correta.
a)É uma narrativa objetive e impessoal em terceira pessoa, que
expressa uma visão neutra do episódio
b)É uma narrativa mais subjetiva, em primeira pessoa, que
expressa o que seria um pavor da personagem diante do episódio
9.Segundo Vera, a família 101 engolida por um lodaçal ao
atravessar um pântano. Os corpos do marido e dos dois irmãos mais novos da tia
nunca foram encontrados O desfecho mostra que essa historia havia sido
inventada por Vera. Na verdade, os três estavam vivos
10.
I-c;
II-b;
IlI-a.
11.0 foco narrativo do
conto é em terceira pessoa. Trechos que JUSt1f1- cam a resposta "Framton
Nuttel se esforçou para dizer algo adequado"; "Ela emendou, alegremente,
acerca da caça e da escassez de aves, e sobre as perspectivas do inverno
quanto a patos", entre outros
12.É um narrador em
terceira pessoa, que não participa da história, mas sabe tudo que ocorre nela.
13.Poss1b1l1dade de resposta· "Eu me perguntava se a
sra. Sappleton, a dama a quem eu entregaria uma das cartas, estava no grupo das
agradáveis Foi então que a sobrinha perguntou·
- O senhor conhece muita gente aqui das redondezas?
Eu disse que não conhecia quase ninguém, mas que minha irmã
havia passado um tempo na casa paroquial, uns quatro anos atrás, e que havia me
dado cartas de apresentação para algumas pessoas da região "
14.É um narrador onisciente.
Ele sabe desde o início que a menina é inventiva e da pequenas pistas ao
leitor, mas só no final revela a capacidade de invenção de Vera Ou seja, ele
conhece de antemão as ações e os sentimentos da personagem da história.
15.Alternativa correta b
QUAL E O DO PROFESSOR?
ResponderExcluirO vermelho e a resposta
ExcluirAda
Excluirqual as caracteristicas do narrador dessa historia
ResponderExcluirNuttel
ExcluirMilleny
ResponderExcluirE as respostas?
ResponderExcluirRespostas
ResponderExcluirObrigada professor me ajudou muito
ResponderExcluirObrigada, as questões aqui postadas me aliviaram o trabalho.
ResponderExcluirMuito obrigado me ajudou muito nessa
ResponderExcluirAlguém sabee a 16??
ResponderExcluirMT bom.,
ResponderExcluir