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quinta-feira, 19 de março de 2020

CONTO A ORELHA DE VAN GOGH INTERPRETAÇÃO ALFA 7º ANO GABARITO


O QUE VEM A SEGUIR

     Escrito por Moacyr Scliar, o CONTO que você vai ler agora trata, com humor melancólico, de uma situação difícil vivenciada por pai e filho. Leia o título, que menciona um importante pintor holandês do século XIX. Depois converse com os colegas a respeito da questão: Por que será que o título do CONTO faz referência à orelha desse pintor?

A orelha de Van Gogh (fragmento)
Moacyr Scliar
       Estávamos, como de costume, à beira da ruína. Meu pai, dono de um pequeno armazém, devia a um de seus fornecedores importante quantia. E não tinha como pagar.
       Mas, se lhe faltava dinheiro, sobrava-lhe imaginação... Era um homem culto, inteligente, além de alegre. Não concluíra os estudos [...]. Os fregueses gostavam dele, entre outras razões porque vendia fiado e não cobrava nunca. Com os fornecedores, porém, a situação era diferente. Esses enérgicos senhores queriam seu dinheiro. O homem a quem meu pai devia no momento era conhecido como um credor particularmente implacável.
      Outro se desesperaria. Outro pensaria em fugir, em se suicidar até. Não meu pai. Otimista como sempre, estava certo de que daria um jeito. Esse homem deve ter seu ponto fraco, dizia, e por aí o pegamos. Perguntando daqui e dali, descobriu algo promissor. O credor, que na aparência era um homem rude e insensível, tinha uma paixão secreta por Van Gogh. [...]
        Meu pai retirou na biblioteca um livro sobre Van Gogh e passou o fim de semana mergulhado na leitura. Ao cair da tarde de domingo, a porta de seu quarto se abriu e ele surgiu, triunfante:
       – Achei!
       Levou-me para um canto – eu, aos doze anos, era seu confidente e cúmplice – e sussurrou, os olhos brilhando:
       – A orelha de Van Gogh. A orelha nos salvará.
       O que é que vocês estão cochichando aí, perguntou minha mãe, que tinha escassa tolerância para com o que chamava de maluquices do marido. Nada, nada, respondeu meu pai, e para mim, baixinho, depois te explico.
       Depois me explicou. O caso era que o Van Gogh, num acesso de loucura, cortara a orelha e a enviara à sua amada. A partir disso meu pai tinha elaborado um plano: procuraria o credor e diria que recebera como herança de seu bisavô, amante da mulher por quem Van Gogh se apaixonara, a orelha mumificada do pintor. Ofereceria tal relíquia em troca do perdão da dívida e de um crédito adicional.
       – Que dizes?
Minha mãe tinha razão: ele vivia em um outro mundo, um mundo de ilusões.
[...] A questão, contudo, era outra: – E a orelha?
      – A orelha? – olhou-me espantado, como se aquilo não lhe tivesse ocorrido.
Sim, eu disse, a orelha do Van Gogh, onde é que se arranja essa coisa. Ah, ele disse, quanto a isso não há problema, a gente consegue uma no necrotério. O servente é meu amigo, faz tudo por mim.
        No dia seguinte, saiu cedo. Voltou ao meio-dia, radiante, trazendo consigo um embrulho que desenrolou cuidadosamente. Era um frasco com formol, contendo uma coisa escura, de formato indefinido. A orelha de Van Gogh, anunciou, triunfante.
       E quem diria que não era? Mas, por via das dúvidas, ele colocou no vidro um rótulo: Van Gogh – orelha.
       À tarde, fomos à casa do credor. Esperei fora, enquanto meu pai entrava. Cinco minutos depois voltou, desconcertado, furioso mesmo: o homem não apenas recusara a proposta, como arrebatara o frasco de meu pai e o jogara pela janela.
        – Falta de respeito!
      Tive de concordar, embora tal desfecho me parecesse até certo ponto inevitável. Fomos caminhando pela rua tranquila, meu pai resmungando sempre: falta de respeito, falta de respeito. De repente parou, olhou-me fixo:
      – Era a direita ou a esquerda?
      – O quê? – perguntei, sem entender.
      – A orelha que o Van Gogh cortou. Era a direita ou a esquerda?
     – Não sei – eu disse, já irritado com aquela história. Foi você quem leu o livro. Você é quem deve saber. [...]
      - mas não sei – disse ele, desconsolado. – Confesso que não sei.
      Ficamos um instante em silencio. Uma dúvida me assaltou naquele momento, uma dúvida que eu não ousava formular, porque sabia que a resposta poderia ser o fim da minha infância. Mas:
      E a do vidro? – Perguntei. – Era a direita ou a esquerda?
      Mirou-me aparvalhado.
      - Sabe que não sei? – Murmurou numa voz fraca, rouca. – Não sei.
     E prosseguimos, rumo à nossa casa. Se a gente olhar bem uma relha – qualquer orelha, seja ela de Van  Gogh ou não  -  Verá que seu desenho se assemelha ao de um labirinto. Nesse labirinto eu estava perdido. Eu nunca mais sairia dele.
Disponível em http://www.academia.org.br/abl/media/RB53%20-%20Prosa.pdf. Acesso em: 19 mai.
2012.

1. Após a leitura do conto, retome as hipóteses formuladas no boxe o que vem a seguir. O que você e os colegas imaginaram antes da leitura se confirmou?
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2. Quem é o autor do conto A ORELHA DE VAN GOGH?
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3. Quem é o narrador do conto, isto é, quem conta a história?
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ANOTE AÍ

O autor é quem  cria e escreve as narrativas. O narrador é a voz adotada pelo autor para contar os acontecimentos em uma história. O autor é uma pessoa real, enquanto o narrador existe apenas na história contada, podendo ou não participar dos acontecimentos narrados.

4. O narrador do conto que você leu participa dos acontecimentos? Justifique.
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5. Descreva algumas características das personagens.
PAI..................................................................................................................
MÃE.................................................................................................................
CREDOR........................................................................................................
6. Conhecemos as personagens do conto por meio das impressões do narrador sobre elas. E, quanto ao narrador, que característica de sua personalidade você pode perceber? Justifique sua resposta.
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7. Releia o trecho:
“Mas, se lhe faltava dinheiro, sobrava-lhe imaginação. Era um homem culto, inteligente, além de alegre. Não concluíra os estudos; o destino o confinara no modesto de secos e molhados, onde ele, entre paios e linguiça, resistia bravamente aos embates da existência.”

a) O que você entende da expressão “embate da existência”?
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b) nesse trecho, parece opor duas formas de viver. Quais são essas formas de viver que estão em oposição?
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8. Sobre o espaço e o tempo desse conto, responda as questões a seguir.
a) em que espaço se desenvolvem as ações narradas no conto?
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b) Procure determinar em que período de tempo se deram essas ações.
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9. No conto lido, há um conflito presente desde o primeiro parágrafo é em torno dele que se desenvolve a narrativa. Qual é esse conflito?
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ANOTE AÍ
 No gênero conto, o enredo tende a se organizar em torno de um único conflito, ou seja, de uma única oposição ente as personagens ou forças. Esse conflito pode ocorrer, por exemplo, entre duas ou mais personagens, ente o protagonista e o antagonista, entre o protagonista e as forças externas. Nesse genro, o enredo se desenvolve em um único espaço ou em poucos espaços, e o tempo de duração da história é geralmente curto.

10. Sobre o conflito, responda as questões.
a) Que solução o pai encontra para resolvê-lo?
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b) O pai teve sucesso no seu plano? Por quê?
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c) Em sua opinião, por que isso aconteceu?
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11. Ao longo da história, conhecemos alguns sentimentos que o narrador experimenta em relação ao pai e à forma que ele encontra para resolver a dívida com  seu credor. Esses sentimentos sofrem alguma mudança? Explique.
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12. Relei a trecho.
“ Ficamos um instante em silencio. Uma dúvida me assaltou naquele momento, um dúvida que eu não ousava formular, porque sabia que a resposta poderia ser o fim da minha infância. Mas:
    _ E a do vidro? – perguntei – Era a direita ou a esquerda?
a) Qual é o significado da palavra assaltou nesse trecho?
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b) Por que há repetição da palavra dúvida nessa passagem?
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c) Em sua opinião, por que o narrador diz que a resposta do pai à sua dúvida poderia significar o fim de sua infância?
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13. Releia o último parágrafo do conto.
“E prosseguimos, rumo à nossa casa. Se a gente olhar bem uma relha – qualquer orelha, seja ela de Van  Gogh ou não  -  Verá que seu desenho se assemelha ao de um labirinto. Nesse labirinto eu estava perdido. Eu nunca mais sairia dele.”
a) A história se passa em que época da vida do narrador?
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b) O narrador conta a história no momento em que ela acontece ou em momento posterior aos acontecimentos?
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14. Ainda sobre o último parágrafo, responda as questões.
a) A quem o narrador se refere ao usar a expressão a gente?
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b) Explique, com suas palavras, a menção ao labirinto feita pelo narrador.
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ANOTE AÍ
O conflito cria uma situação de tensão que domina toda a narrativa e prende a atenção do leitor até o desfecho, a etapa final do enredo. É importante que o desfecho causa impacto ou surpresa no leitor ou provoque uma reflexão.

RESPOSTAS E COMENTÁRIOS

1.Resposta pessoal. Professor, pro­cure retomar o registro das res­postas dos alunos.

2.Moacyr Scliar.

3.O filho de um pequeno comer­ciante, dono de armazém.

4.Sim. O narrador participa dos acontecimentos e os narra como alguém que acompanhou a ideia e a execução do plano do pai. Essa participação é evidenciada pela alternância entre o emprego da 1• pessoa do plural e da 1• pessoa do singular: "Ficamos um instan­te em silêncio" e "Levou-me para um canto - eu, aos doze anos, era seu confidente ] ... ]".

5.Pai: culto, inteligente, alegre, imaginativo, otimista. Mãe: impacien­te, prática, pouco tolerante. Cre­dor: implacável, rude, insensível.

6.O narrador é bastante próximo ao pai, como ele mesmo define, "era seu confidente e cumplice". Além disso, é um narrador observador e reflexivo e, ao final do conto, essa característica torna-se mais evidente.

7.a) Resposta pessoal. Espera-se que o aluno compreenda que a expressão refere-se, em geral, às dificuldades do cotidiano

b) O narrador opõe uma forma mais prática e pragmática de viver a uma forma mais ligada ao mun­do da imaginação.

8.a) Em duas casas, a da família do narrador e a do credor.

b) Aparentemente ocorre em três dias: no final de semana, o pai es­tuda e formula o plano; na segun­da, obtém a orelha e vai até a casa do credor.

9.A dívida com o credor.

 

RESPOSTAS E COMENTÁRIOS

10.a) Presentear o credor com a ore­lha de Van Gogh, que, segundo sua invenção, teria sido deixada de herança pelo seu bisavô, amante da mulher por quem o pmtor se apaixonara. Ele ofereceria a relí­quia em troca do perdão da dívida e de um crédito adicional.

b) O pai não teve sucesso no seu plano. A narrativa não deixa evi­dente o motivo do fracasso.

c) Resposta pessoal. Espera-se que os alunos elaborem uma res­posta pertinente, com base nos elementos do conto.

11.Sim. No micro do conto, preva­lecem sentimentos positivos em relação ao pai, sobretudo em re­lação à capacidade imaginativa, admirada pelo filho. No final do conto, o filho decepciona-se com o pai e mostra certa impaciência e inquietude, pois o pai não sabe de detalhes da história do pintor.

12.a) Assaltou, nesse contexto, signifi­ca "ocorrer repentinamente"

b) Para enfatizar o estado de in­certeza do narrador

c) Resposta pessoal. Espera-se que os alunos criem uma resposta pertinente e coerente, com base, sempre, nos elementos do conto Por exemplo, que o pai se mostrou ingênuo e incapaz de lidar com os problemas de modo adulto.

13.a) Na adolescência.

b) Em momento bastante poste­rior aos acontecimentos, prova­velmente na fase adulta

14.a) Refere-se ao narrador e aos leitores Professor, ressalte que, no último parágrafo, o narrador convida os leitores a fazer uma reflexão sobre o episódio narrado

b) Resposta pessoal. Possibilida­de de resposta: O labirinto pode ser entendido como as diferentes possibilidades de caminho que a vida adulta traz.

15.Sim. Os temas apresentados pelo conto - a relação de pai e filho, uma dívida que precisa ser paga, a transição da infância para a maturi­dade, etc. - podem ser vivenciados por pessoas de diversos lugares do mundo e, por isso, podem causar uma identificação universal.

 

 


24 comentários:

  1. Respostas
    1. Claro q sim meu fi saite:gabarito.escoll/trops/BR.
      A resposta está lá 👍🏻

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  2. Nossa eu amor essa história mais queria as respostas

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    1. Saite para a resposta:resposta/historia.avamgog.com.br
      Respostas👍🏻

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  3. Respostas
    1. Saite para a resposta:resposta/historia.avamgog.com.br
      Respostas👍🏻

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  4. Parabéns professor Diógenes pelo seu trabalho!!
    Tem me ajudado muito. Que Deus continue abençoando a sua vida!

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  5. Em que ele a família da historia mudou-se

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  6. Poderia por o link para acesso as respostas? Por essa descrição que vc colocou não consegui acessar as respostas do texto A orelha de Van Gogh

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  7. gostaria da resposta das questões 16 e 17.obrigada

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  8. o que você compreende da expressão"embates da existência?

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