MACAÉ EM CORDEL
POESIA POPULAR
Aldo Cesar Frota Vasconcellos
Preste atenção, meu amigo
Que eu agora vou contar
a história dessa cidade
que nasceu a beira-mar,
e nela um povo indígena
vivia sempre a pescar.
Acontece que os indígenas
é que eram os verdadeiros
moradores dessa terra,
anteriores brasileiros;
eram homens e mulheres
que chegaram aqui primeiro.
E os que chegaram primeiro,
com sua época e vez,
aqui andaram e comeram,
e guerrearam tanta vez,
foram, um dia, dominados
pelo povo Português.
Mas a cultura nativa
resiste pro nosso bem,
pois dos índios nós herdamos
muitas coisas que convém,
que até este belo nome
é indígena também.
dizem uns historiadores.
Os jesuítas é quem sabem,
forma colonizadores,
difundindo por aqui,
nobres e santos valores.
dizem que assim não é,
pois o verdadeiro nome
da Villa de Macahé
surgiu como rio dos bagres
Da aldeia dos Goytacazes,
eram esses arredores;
o povos que aqui moravam
vivendo entre as restingas,
eram exímios corredores.
Porém sempre apareciam
das bandas do Cabo Frio
bravos guerreiros Tamoios,
homens fortes e arredios,
atacando os Goytacazes
com coragem e muito brio.
Macaé já foi chamada
Princesinha do Atlântico;
Cidade clara de Luz,
divina como num cântigo;
Capital do Outro Negro,
nesses nossos tempos quânticos.
A igreja de Sant’Anna
foi a edificação
inicial de Macaé,
pela localização,
pois, topograficamente,
garantia a proteção.
Mas por ser berço de mar,
terra de muitos amores,
sempre surgiam piratas
roubando navegadores;
muitos crimes e devassas
que espalhavam muitas dores.
E por isso, nesta época,
com ordem do Imperador,
mandou-se então construir
esse forte protetor,
e em mil seiscentos e treze
sua construção começou.
O Forte Marechal Hermes
bem cumpriu sua missão
e assim fez-se exemplo de
luta e dedicação,
sendo hoje, segurança,
para o bem dessa nação.
Foi então que a nossa Villa
atingiu maioridade;
mil, oitocentos e treze
fez-se a natalidade:
da vinte e nove de julho
Macaé virou cidade.
***
Dois Pedros Imperadores:
livros dizem que assim é;
o Primeiro, todos sabem,
gostava muito de mulher,
e namorava... escondido
nas praias de Macaé.
Talvez, Dom Pedro Segundo
não tivesse tanto amor
pelas nossas cercanias,
um lugar de muita dor;
inclusive, de um crime...
planejado com terror.
uma família inteira
fora um dia, chacinada
da mais cruenta maneira,
sem aos menos permitirem
a clemência derradeira.
Motta Coqueiro foi preso
sem nem mesmo protestar.
Ele e mais alguns escravos,
nem quiseram interrogar,
porque o povo já pedia
pros culpados condenar.
Motta Coqueiro, porém,
até o fim da prisão,
sustentou ser inocente,
sem dizer contradição,
mas os jornais atiçavam
a ira da população.
Num julgamento apressado,
os juízes por inteiro,
pra agradar a opinião,
atuaram em destempero
pois condenaram à morte
O ilustre Motta Coqueiro.
Ao pé da forca, porém,
um dia a Lenda dirá,
que uma terrível praga
o condenado lançará:
“Por 100 anos, Macaé
o progresso não verá”.
A polêmica da época,
e sua repercussão,
fez surgir muitos protestos
por quase toda nação,
chegando na Capital,
chamou logo atenção.
E após estudar o caso
com calma e paciência,
Dom Pedro enfim, decidiu:
“No fundo a clemência
informal jurisprudência”.
Foi assim que aquele crime
figura no magistrado,
sendo, hoje, em todo curso
de Direito estudado:
no país executada.
Nuca se soube, porém,
se a tal praga funcionou,
e a Fera de Macabu
na memória aqui ficou.
Mas, verdade é que a cidade
por muito tempo estagnou.
Agora muita atenção!
Porque nesse meu sexteto
escrevo de plantas mortas,
animais e esqueletos,
que após milhares de anos
soltam gases sulfuretos.
se neste simples folheto
falo de coisas estranhas
como orgânicos gravetos,
que, por um processo químico,
viram hidrocarbonetos.
É que o combustível fóssil
tem a ver co’essa cidade,
que o petróleo descoberto
com tanta engenhosidade
fez Macaé, no Brasil,
ganhar popularidade!
Pois foi nos anos setenta,
continuando vosso escriba,
que chegaram por aqui,
engenheiros caraíbas,
e após estudos fizeram...
grande porto na Imbetiba!
E esse por hoje é
muito famoso, aliás,
pois dali embarcam homens,
mulheres eventuais,
construindo essa potência
Que se chama Petrobrás.
De plataformas longínquas
sai a riqueza do oceano.
Primeiro o gás natural,
o propano e o butano;
depois milhões de barris,
explorados todo ano.
E aproveito agora aqui,
para enfim, homenagear
aqueles que, tristemente,
se ausentaram de seu lar:
são mártires do progresso
que morreram em alto-mar.
Neste cordel prosseguindo,
vou falando com amor,
que a evolução tecnológica
tem a seu viés de dor;
essa moeda tem dois lados:
da beleza e do horror.
Pois Macaé também viu
coisas boas se acabando,
muitas árvores morrendo,
Rua da Praia se estreitando,
a violência que campeia
e as mazelas aumentando.
muito trânsito caótico;
e com tantos estrangeiros,
fez-se um povo poliglótico,
e tanto stress que nos faz
cada vez mais neuróticos.
Alguns dizem que assim é,
de uma forma natural,
o progresso sempre trás
lado bom e lado mau,
pois no homem sempre existiu,
convivendo o bem e o mal.
Compreendo esse argumento,
porém faço objeção,
pois que tudo se pode
tirar alguma lição.
Deus do Amor no coração.
E o amanhã só Deus sabe,
como diz nosso povo.
não se faz novo começo,
pintinho não volta pro ovo;
mas pode hoje fazer,
quem sabe, um futuro novo.
Vou ficando por aqui,
quero a história preservada
nesta singela toada,
o nome do nosso ilustre
Antônio Alvarez Parada.
Terminando vou-me embora;
vou-me embora ainda não.
e eu tivesse ido embora,
eu num tava aqui mais não:
vou rimar devagarinho,
continuar mais um pouquinho,
prosseguindo esta canção.
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