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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

POEMA MACAÉ EM CORDEL SÓ TEXTO.

MACAÉ EM CORDEL
POESIA POPULAR
Aldo Cesar Frota Vasconcellos

Preste atenção, meu amigo
Que eu agora vou contar
a história dessa cidade
que nasceu a beira-mar,
e nela um povo indígena
vivia sempre a pescar.

Acontece que os indígenas
é que eram os verdadeiros
moradores dessa terra,
anteriores brasileiros;
eram homens e mulheres
que chegaram aqui primeiro.

E os que chegaram primeiro,
com sua época e vez,
aqui andaram e comeram,
e guerrearam tanta vez,
foram, um dia, dominados
pelo povo Português.

Mas a cultura nativa
resiste pro nosso bem,
pois dos índios nós herdamos
muitas coisas que convém,
que até este belo nome
é indígena também.

Macaé: Macaba doce,
dizem uns historiadores.
Os jesuítas é quem sabem,
forma colonizadores,
difundindo por aqui,
nobres e santos valores.


Outros autores, porém,
dizem que assim não é,
pois o verdadeiro nome
da Villa de Macahé
surgiu como rio dos bagres
que os índios chamam de Miquié.


Da aldeia dos Goytacazes,
eram esses arredores;
o povos que aqui moravam
como grande caçadores,
vivendo entre as restingas,
eram exímios corredores.


Porém sempre apareciam
das bandas do Cabo Frio
bravos guerreiros Tamoios,
homens fortes e arredios,
atacando os Goytacazes
com coragem e muito brio.

***


Macaé já foi chamada
Princesinha do Atlântico;
Cidade clara de Luz,
divina como num cântigo;
Capital do Outro Negro,
nesses nossos tempos quânticos.


A igreja de Sant’Anna
foi a edificação
inicial de Macaé,
pela localização,
pois, topograficamente,
garantia a proteção.


Mas por ser berço de mar,
terra de muitos amores,
sempre surgiam piratas
roubando navegadores;
muitos crimes e devassas
que espalhavam muitas dores.


E por isso, nesta época,
com ordem do Imperador,
mandou-se então construir
esse forte protetor,
e em mil seiscentos e treze
sua construção começou.


O Forte Marechal Hermes
bem cumpriu sua missão
e assim fez-se exemplo de
luta e dedicação,
sendo hoje, segurança,
para o bem dessa nação.

Foi então que a nossa Villa
atingiu maioridade;
mil, oitocentos e treze
fez-se a natalidade:
da vinte e nove de julho
Macaé virou cidade.

***

Dois Pedros Imperadores:
livros dizem que assim é;
o Primeiro, todos sabem,
gostava muito de mulher,
e namorava... escondido
nas praias de Macaé.

Talvez, Dom Pedro Segundo
não tivesse tanto amor
pelas nossas cercanias,
um lugar de muita dor;
inclusive, de um crime...
planejado com terror.
Freguezia Carapebus:
uma família inteira
fora um dia, chacinada
da mais cruenta maneira,
sem aos menos permitirem
a clemência derradeira.

Motta Coqueiro foi preso
sem nem mesmo protestar.
Ele e mais alguns escravos,
nem quiseram interrogar,
porque o povo já pedia
pros culpados condenar.

Motta Coqueiro, porém,
até o fim da prisão,
sustentou ser inocente,
sem dizer contradição,
mas os jornais atiçavam
a ira da população.


Num julgamento apressado,
os juízes por inteiro,
pra agradar a opinião,
atuaram em destempero
pois condenaram à morte
O ilustre Motta Coqueiro.



Ao pé da forca, porém,
um dia a Lenda dirá,
que uma terrível praga
o condenado lançará:
“Por 100 anos, Macaé
o progresso não verá”.


A polêmica da época,
e sua repercussão,
fez surgir muitos protestos
por quase toda nação,
chegando na Capital,
chamou logo atenção.


E após estudar o caso
com calma e paciência,
Dom Pedro enfim, decidiu:
“No fundo a clemência
Cumprirá, em novos crimes,
informal jurisprudência”.


Foi assim que aquele crime
figura no magistrado,
sendo, hoje, em todo curso
de Direito estudado:
a última Pena de Morte
no país executada.


Nuca se soube, porém,
se a tal praga funcionou,
e a Fera de Macabu
na memória aqui ficou.
Mas, verdade é que a cidade
por muito tempo estagnou.

***
Agora muita atenção!
Porque nesse meu sexteto
escrevo de plantas mortas,
animais e esqueletos,
que após milhares de anos
soltam gases sulfuretos.

Não se espante, cara amiga,
se neste simples folheto
falo de coisas estranhas
como orgânicos gravetos,
que, por um processo químico,
viram hidrocarbonetos.


É que o combustível fóssil
tem a ver co’essa cidade,
que o petróleo descoberto
com tanta engenhosidade
fez Macaé, no Brasil,
ganhar popularidade!
Pois foi nos anos setenta,
continuando vosso escriba,
que chegaram por aqui,
engenheiros caraíbas,
e após estudos fizeram...
grande porto na Imbetiba!


E esse por hoje é
muito famoso, aliás,
pois dali embarcam homens,
mulheres eventuais,
construindo essa potência
Que se chama Petrobrás.


De plataformas longínquas
sai a riqueza do oceano.
Primeiro o gás natural,
o propano e o butano;
depois milhões de barris,
explorados todo ano.


E aproveito agora aqui,
para enfim, homenagear
aqueles que, tristemente,
se ausentaram de seu lar:
são mártires do progresso
que morreram em alto-mar.


Neste cordel prosseguindo,
vou falando com amor,
que a evolução tecnológica
tem a seu viés de dor;
essa moeda tem dois lados:
da beleza e do horror.


Pois Macaé também viu
coisas boas se acabando,
muitas árvores morrendo,
Rua da Praia se estreitando,
a violência que campeia
e as mazelas aumentando.

Pois há muita poluição,
muito trânsito caótico;
e com tantos estrangeiros,
fez-se um povo poliglótico,
e tanto stress que nos faz
cada vez mais neuróticos.


Alguns dizem que assim é,
de uma forma natural,
o progresso sempre trás
lado bom e lado mau,
pois no homem sempre existiu,
convivendo o bem e o mal.


Compreendo esse argumento,
porém faço objeção,
pois que tudo se pode
tirar alguma lição.
Deus do Amor no coração.


E o amanhã só Deus sabe,
como diz nosso povo.
não se faz novo começo,
pintinho não volta pro ovo;
mas pode hoje fazer,
quem sabe, um futuro novo.


Vou ficando por aqui,
quero a história preservada
e homenageio ao final,
nesta singela toada,
o nome do nosso ilustre
Antônio Alvarez Parada.


Terminando vou-me embora;
vou-me embora ainda não.
e eu tivesse ido embora,
eu num tava aqui mais não:
vou rimar devagarinho,
continuar mais um pouquinho,
prosseguindo esta canção.


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