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domingo, 26 de fevereiro de 2017

CRÔNICA A VISITA CEREJA INTERPRETAÇÃO 9º ANO pag. 107

A VISITA ( WALCYR CARRASCO)
            Há pessoas que ficam guardadas na alma da gente. De repente minha memória ilumina um sorriso, uma palavra, um gesto de alguém que não vejo há muito tempo. No último Dia das Mães, resolvi rever minha antiga professora de ciências, dona Thelma. Estudei com ela no Instituto de Educação Monsenhor Bicudo, em Marília, no interior de São Paulo, no tempo em que o ensino médio era chamado de ginásio. Mas perdi o contato: fui criado na cidade somente até os 15 anos. Quando minha família se mudou, veio completa. Não deixamos parentes a quem visitar. Durante mais de quarenta anos, não voltei a Marília. Sempre me lembrava de dona Thelma, mas, contraditoriamente, nunca a visitei.
          Uma ex-colega de classe, Malau, que também só revi recentemente, localizou seu endereço. Minha mãe raramente comparecia às festas escolares quando eu era garoto. Em um Dia das Mães os alunos receberam rosas para oferecer. Entreguei a minha a dona Thelma, que, às vezes, eu chamava de mãe, um pouco por malandragem. Certa vez, na fila do cinema, dona Thelma chegou com o filho pequeno e me pediu para comprar seu ingresso. O funcionário proibiu:
          — Não pode comprar, ela tem de ir para o fim da fila!
          Gritei, muito espertinho: — Mas ela é minha mãe!
          — Ah, se é mãe, pode!
          Passei a chamá-la de mãe e sempre recebia um sorriso cúmplice de volta!
          Em suas aulas contemplei a beleza das células através do microscópio. Apaixonei-me pela teoria da evolução das espécies. Ela me ensinou a pesquisar por conta própria, já que gostava tanto do tema.
           Assim, um pouco me sentindo como um molequinho, apareci de surpresa em sua casa, em Marília. Em dúvida sobre o presente adequado, levei uma caixa de bombons e o meu livro Anjo de Quatro Patas. Ela me recebeu com o mesmo sorriso e os gestos leves, divertidos, juvenis apesar dos seus 77 anos.
         — Nem estou arrumada! Entre, entre!
          Adorou os bombons, autografei o livro. Serviu café com bolo. Quis saber da minha carreira. Eu, de sua vida: teve cinco filhos. O mais velho mora nos Estados Unidos, a mais nova com ela. Aposentada, dedica- se a seu marido, João Décio, professor de literatura da Unesp, autor de quatro livros.
          Falou da juventude, dos tempos de pobreza durante a faculdade. Da vida de professora. Lembramos meus tempos de escola. Mui tas vezes, na época, eu a visitava. Ela me dava xerox das poesias que o marido usava como material para as aulas na universidade. Assim conheci Fernando Pessoa e Florbela Espanca.
          Mas durante todo o tempo da visita tinha a sensação de que deveria ter levado um presente mais valioso. De repente confessei:
          — Odiamos quando você começou a nos dar aulas!
          — Verdade?
          — Ainda me lembro da primeira prova. Decorei tudo. Só caíram perguntas que exigiam raciocínio! Foi um desastre.
Ela riu.
          — Sempre fui contra a decoreba.
          — Depois eu comecei a juntar uma coisa com a outra. Você também me mostrou como fazer pesquisa. Fiz uma pausa, procurando as palavras certas.
          — Tudo o que aprendi com você me acompanha até agora, Thelma. Sabe, você me ensinou a pensar. Eu não teria me tornado quem sou hoje se você não tivesse sido minha professora.
           Compreendi que meu verdadeiro presente estava além do material. Era meu profundo agradecimento por ela ter existido em minha vida. O brilho de seus olhos me disse quanto se sentiu gratificada. Eu também, pela oportunidade de dizer que ela se tornou inesquecível não só para o garoto que eu fui, mas também para o homem em que me transformei.

1. A crônica “ A visita” narra o reencontro, depois de anos, do narrador com sua ex-professora de Ciências , dona Thelma.
a) Que sentimento ele, agora adulto, cultiva em relação a sua professora?
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b) Por que ele perdeu contato com sua ex-professora?
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c) Por que ele considera contraditório nunca tê-la visitado?
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2. O narrador comenta: “No último Dia das mães, resolvi rever minha antiga professora de Ciência dona Thelma”. Por que se lembrou da professora e resolveu revê-la justamente no dia Das Mães?
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3. A professora de Ciências marcou a vida do narrador.
a) De que ele mais gostava em sua professora?
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b) Do que não gostou? Por quê?
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c) Em relação ao que não gostou em sua professora, hoje ele ainda pensa assim?
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4. Releia este trecho e levante hipóteses.
“ Em dúvida sobre o presente adequado, levei uma caixa de bombons e o meu livro Anjo de Quatro patas”
a) Qual é a profissão do narrador?
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b) Em que medida a professora pode ter contribuído para que ele despertasse para essa profissão?
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5. Em certo momento da conversa, ele procura “as palavras certas”. No contexto, o que isso significa?
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6. Observe o trecho: “Mas durante todo o tempo da visita tinha a sensação de que deveria ter levado um presente mais valioso”.
a) Nesse momento, o que ele estava imaginando que fosse um “presente mais valioso”?
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b) Aos poucos, entretanto, o narrador percebe que já estava dando a ela um presente ainda mais valioso. Qual era ele?
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c) Ele, que foi levar um presente á sua professora, também foi presenteado? Explique.
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7. Considerando que o narrador visita sua ex-professora no Dias das mães e gostava de chama-la de “mãe” quando era menino, você acha que o que o narrador sente por sua professora é uma forma de amor?
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8. E você também teve um professor especial, que marcou a sua vida? Se sim, conte para seus amigos.
R. pessoal


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