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domingo, 26 de fevereiro de 2017

CONTO PAUSA CEREJA 3Q. 9ºANO

PAUSA

       Às sete horas o despertador tocou. Samuel saltou da cama, correu para o banheiro. Fez a barba e lavou-se. Vestiu-se rapidamente e sem ruído. Estava na cozinha, preparando sanduíches, quando a mulher apareceu, bocejando:
       —Vais sair de novo, Samuel?
        Fez que sim com a cabeça. Embora jovem, tinha a fronte calva; mas as sobrancelhas eram espessas, a barba, embora recém-feita, deixava ainda no rosto uma sombra azulada. O conjunto era uma máscara escura.
       —Todos os domingos tu sais cedo – observou a mulher com azedume na voz.
       —Temos muito trabalho no escritório – disse o marido, secamente.
       Ela olhou os sanduíches:
       —Por que não vens almoçar?
       —Já te disse: muito trabalho. Não há tempo. Levo um lanche.
       A mulher coçava a axila esquerda. Antes que voltasse a carga, Samuel pegou o chapéu:
       —Volto de noite.
        As ruas ainda estavam úmidas de cerração. Samuel tirou o carro da garagem. Guiava vagarosamente, ao longo do cais, olhando os guindastes, as barcaças atracadas.
       Estacionou o carro numa travessa quieta. Com o pacote de sanduíches debaixo do braço, caminhou apressadamente duas quadras. Deteve-se ao chegar a um hotel pequeno e sujo. Olhou para os lados e entrou furtivamente. Bateu com as chaves do carro no balcão, acordando um homenzinho que dormia sentado numa poltrona rasgada. Era o gerente. Esfregando os olhos, pôs-se de pé:
        —Ah! Seu Isidoro! Chegou mais cedo hoje. Friozinho bom este, não é? A gente...
       —Estou com pressa, seu Raul – atalhou Samuel.
       — Está bem, não vou atrapalhar. O de sempre - Estendeu a chave.
Samuel subiu quatro lanços de uma escada vacilante. Ao chegar ao último andar, duas mulheres gordas, de chambre floreado, olharam-no com curiosidade:
       —Aqui, meu bem! – uma gritou, e riu: um cacarejo curto.
       Ofegante, Samuel entrou no quarto e fechou a porta a chave. Era um aposento pequeno: uma cama de casal, um guarda-roupa de pinho: a um canto, uma bacia cheia d’água, sobre um tripé. Samuel correu as cortinas esfarrapadas, tirou do bolso um despertador de viagem, deu corda e colocou-o na mesinha de cabeceira.
Puxou a colcha e examinou os lençóis com o cenho franzido; com um suspiro, tirou o casaco e os sapatos, afrouxou a gravata. Sentado na cama, comeu vorazmente quatro sanduíches. Limpou os dedos no papel de embrulho, deitou-se fechou os olhos.
       Dormir.
       Em pouco, dormia. Lá embaixo, a cidade começava a move-se: os automóveis buzinando, os jornaleiros gritando, os sons longínquos.
Um raio de sol filtrou-se pela cortina, estampou um círculo luminoso no chão carcomido.
       Samuel dormia; sonhava. Nu, corria por uma planície imensa, perseguido por um índio montado o cavalo. No quarto abafado ressoava o galope. No planalto da testa, nas colinas do ventre, no vale entre as pernas, corriam. Samuel mexia-se e resmungava. Às duas e meia da tarde sentiu uma dor lancinante nas costas. Sentou-se na cama, os olhos esbugalhados: o índio acabava de trespassá-lo com a lança. Esvaindo-se em sangue, molhando de suor, Samuel tombou lentamente; ouviu o apito soturno de um vapor. Depois, silêncio.

       Às sete horas o despertador tocou. Samuel saltou da cama, correu para a bacia, levou-se. Vestiu-se rapidamente e saiu.
       Sentado numa poltrona, o gerente lia uma revista.
       — Já vai, seu Isidoro?
       —Já – disse Samuel, entregando a chave. Pagou, conferiu o troco em silêncio.
       —Até domingo que vem, seu Isidoro – disse o gerente.
       —Não sei se virei – respondeu Samuel, olhando pela porta; a noite caia.
       —O senhor diz isto, mas volta sempre – observou o homem, rindo.
Samuel saiu.
       Ao longo dos cais, guiava lentamente. Parou um instante, ficou olhando os guindastes recortados contra o céu avermelhado. Depois, seguiu. Para casa.

1.Nesse conto, o narrador é observador. Ele narra o que acontece na vida da personagem. Samuel/Isidoro.
a) Quanto tempo transcorre entre o início e o final do conto?
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b) Como o narrador informa sobre o tempo decorrido?
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2.O tempo e o espaço são elementos importantes para a construção do sentido das narrativas. No conto “Pausa”.
a) Onde ocorre os fatos?
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b) Qual deles é mais destacado? Justifique sua resposta.
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c) Como se caracteriza esse lugar?
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d) Que relação há entre o título, o lugar onde ocorre a maioria dos fatos e o tempo em que acontece a história?
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3.Dê uma interpretação para o sono da personagem Samuel.

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