Psicopata ao
volante
David
Neves passava de carro às onze horas de certa noite de Sábado por uma rua de Botafogo,
quando um guarda o fez parar:
–
Seus documentos, por favor.
Os
documentos estavam em ordem, mas o carro não estava: tinha um dos faróis
queimado.
–
Vou Ter de multar – advertiu o guarda.
–
Está bem – respondeu David, conformado.
–
Está bem? O senhor acha que está bem?
O
guarda resolveu fazer uma vistoria mais caprichada, e deu logo com várias
outras
irregularidades:
–
Eu sabia! Limpador de para-brisa quebrado, folga na direção, freio desregulado.
Deve haver mais coisa, mas para mim já chega. Ou o senhor acha pouco?
–
Não, para mim também já chega.
–
Vou Ter de recolher o carro, não pode trafegar nessas condições.
–
Está bem – concordou David.
–
Não sei se o senhor me entendeu: eu disse que vou Ter de recolher o carro.
–
Entendi sim: o senhor disse que vai Ter de recolher o carro. E eu disse que
está bem.
–
O senhor fica aí só dizendo está bem.
–
Que é que o senhor queria que eu dissesse? Respeito sua autoridade.
–
Pois então vamos.
–
Está bem.
Ficaram
parados, olhando um para o outro. O guarda, perplexo: será que ele não está entendendo?
Qual é a sua, amizade? E David, impassível: pode desistir, velhinho, que de mim
tu não vê a cor do burro de um tostão. E ali ficariam o resto da noite a se
olhar, em silêncio, a autoridade e o cidadão flagrado em delito, se o guarda
enfim não se decidisse:
–
O senhor quer que eu mande vir o reboque ou prefere levar o carro para o
depósito o senhor mesmo?
–
O senhor é que manda.
–
Se quiser, pode levar o carro o senhor mesmo.
Sem
se abalar, David pôs o motor em movimento:
–
Onde é o depósito?
O
guarda contornou rapidamente o carro pela frente, indo sentar-se na boleia:
–
Onde é o depósito…O senhor pensou que ia sozinho? Tinha graça!
Lá
foram os dois por Botafogo afora, a caminho do depósito.
–
O senhor não pode imaginar o aborrecimento que ainda vai ter por causa disso –
o
guarda
dizia.
–
Pois é – David concordava: – Eu imagino.
O
guarda o olhava, cada vez mais intrigado:
–
Já pensou na aporrinhação que vai ter? A pé, logo numa noite de Sábado. Vai ver
que tinha aí o seu programinha para esta noite… E amanhã é Domingo, só vai
poder pensar em liberar o carro a partir de Segunda-feira. Isto é, depois de
pagar as multas todas…
–
É isso aí – e David o olhou, penalizado: — Estou pensando também no senhor, se
aborrecendo
por minha causa, perdendo tempo comigo numa noite de Sábado, vai ver que até estava
de folga hoje…
–
Pois então? — reanimado, o guarda farejou um entendimento: — Se o senhor
quisesse,
a gente podia dar um jeito…O senhor sabe, com boa vontade, tudo se arranja.
–
É isso aí, tudo se arranja. Onde fica mesmo o depósito?
O
guarda não disse mais nada, a olhá-lo, fascinado. De repente ordenou, já à
altura do Mourisco:
–
Pare o carro! Eu salto aqui. David parou o carro e o guarda saltou, batendo a
porta, que por pouco não se despregou das dobradiças. Antes de se afastar,
porém, debruçou-se na janela e gritou:
–
O senhor é um psicopata!
(Fernando
Sabino. A falta que ela me faz. Rio de Janeiro: Record, 1995. P. 94.)
01 O texto retrata uma situação
corriqueira no trânsito.
a) Com que objetivo o policial
parou o motorista?
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b) O policial encontrou algum
motivo para advertir ou multar o motorista? Se sim, qual?
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c) Que reação teve o motorista
diante da iminência de ser multado?
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02 Diante da reação do motorista,
o policial aprofunda a investigação e identifica vários
outros problemas no carro.
a) Que nova ameaça o policial
faz?
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b) Qual é a reação do motorista?
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03 Releia estre trecho do texto:
“Ficaram parados, olhando um para
o outro. O guarda, perplexo: será que ele não está entendendo? Qual é a sua,
amizade? E David, impassível: pode desistir, velhinho, que de mim tu não vê a
cor do burro de um tostão.”
Nesse trecho, o narrador deixa
claro o jogo de interesse na conversa entre o policial e o
motorista.
a) Por que o policial cada vez se
torna mais ameaçador?
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b) O motorista percebia as
intenções do policial. Por que agia desse modo?
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04 A intenção do guarda, já no
meio da conversa, pode ser percebida pela seguinte fala
do mesmo:
a) – Pare o carro! Eu salto aqui.
b) – O senhor é um psicopata!
c) – O senhor não pode imaginar o
aborrecimento que ainda vai ter por causa disso.
d) – Se o senhor quisesse, a
gente podia dar um jeito... O senhor sabe, com boa vontade,
tudo se arranja.
05 Cada vez mais perplexo, o
policial continua a insistir em sua estratégia.
a) Que outros argumentos ele
utiliza para sensibilizar o motorista?
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b) Em que passagem do texto o
motorista faz o jogo do policial e utiliza as mesmas armas do
adversário?
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06 A crônica mostra uma inversão
de valores. Explique por quê.
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07 Em relação ao título do texto:
a) Explique a ironia que existe
nele.
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b) Psicopata é a pessoa que
apresenta distúrbios mentais graves e comportamentos
antissociais. Portanto, é alguém
diferente da maioria das pessoas. Pelo comentário do policial,
infira: Como as demais pessoas
agem no trânsito?
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08 Que efeito de sentido tem o
emprego das reticências na frase: “Se o senhor quisesse, a
gente podia dar um jeito...” ?
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09 Complete as lacunas,
empregando o verbo entre parênteses de acordo com a norma
padrão. Atente para o modo e o
tempo verbal adequado.
a) Meu irmão, minha prima e eu
___________________ do cinema agora. (chegar)
b) Exatamente às 20 horas
_______________________ a cantora e os músicos, e o
espetáculo começou. (entrar)
c) O diretor e a coordenadora,
depois de um longo intervalo após a exposição,
_______________________ o debate.
(orientar)
d) Fomos nós quem __________________
esta árvore. (plantar)
e)
Fui eu que _________________ a carne para o churrasco. (compra
Eu queria a resposta
ResponderExcluirCadê as respostas?
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