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domingo, 26 de fevereiro de 2017

CRONICA PSICOPATA AO VOLANTE CEREJA 9] ANO ADAP 9Q

Psicopata ao volante

David Neves passava de carro às onze horas de certa noite de Sábado por uma rua de Botafogo, quando um guarda o fez parar:
– Seus documentos, por favor.
Os documentos estavam em ordem, mas o carro não estava: tinha um dos faróis
queimado.
– Vou Ter de multar – advertiu o guarda.
– Está bem – respondeu David, conformado.
– Está bem? O senhor acha que está bem?
O guarda resolveu fazer uma vistoria mais caprichada, e deu logo com várias outras
irregularidades:
– Eu sabia! Limpador de para-brisa quebrado, folga na direção, freio desregulado. Deve haver mais coisa, mas para mim já chega. Ou o senhor acha pouco?
– Não, para mim também já chega.
– Vou Ter de recolher o carro, não pode trafegar nessas condições.
– Está bem – concordou David.
– Não sei se o senhor me entendeu: eu disse que vou Ter de recolher o carro.
– Entendi sim: o senhor disse que vai Ter de recolher o carro. E eu disse que está bem.
– O senhor fica aí só dizendo está bem.
– Que é que o senhor queria que eu dissesse? Respeito sua autoridade.
– Pois então vamos.
– Está bem.
Ficaram parados, olhando um para o outro. O guarda, perplexo: será que ele não está entendendo? Qual é a sua, amizade? E David, impassível: pode desistir, velhinho, que de mim tu não vê a cor do burro de um tostão. E ali ficariam o resto da noite a se olhar, em silêncio, a autoridade e o cidadão flagrado em delito, se o guarda enfim não se decidisse:
– O senhor quer que eu mande vir o reboque ou prefere levar o carro para o depósito o senhor mesmo?
– O senhor é que manda.
– Se quiser, pode levar o carro o senhor mesmo.
Sem se abalar, David pôs o motor em movimento:
– Onde é o depósito?
O guarda contornou rapidamente o carro pela frente, indo sentar-se na boleia:
– Onde é o depósito…O senhor pensou que ia sozinho? Tinha graça!
Lá foram os dois por Botafogo afora, a caminho do depósito.
– O senhor não pode imaginar o aborrecimento que ainda vai ter por causa disso – o
guarda dizia.
– Pois é – David concordava: – Eu imagino.
O guarda o olhava, cada vez mais intrigado:
– Já pensou na aporrinhação que vai ter? A pé, logo numa noite de Sábado. Vai ver que tinha aí o seu programinha para esta noite… E amanhã é Domingo, só vai poder pensar em liberar o carro a partir de Segunda-feira. Isto é, depois de pagar as multas todas…
– É isso aí – e David o olhou, penalizado: — Estou pensando também no senhor, se
aborrecendo por minha causa, perdendo tempo comigo numa noite de Sábado, vai ver que até estava de folga hoje…
– Pois então? — reanimado, o guarda farejou um entendimento: — Se o senhor
quisesse, a gente podia dar um jeito…O senhor sabe, com boa vontade, tudo se arranja.
– É isso aí, tudo se arranja. Onde fica mesmo o depósito?
O guarda não disse mais nada, a olhá-lo, fascinado. De repente ordenou, já à altura do Mourisco:
– Pare o carro! Eu salto aqui. David parou o carro e o guarda saltou, batendo a porta, que por pouco não se despregou das dobradiças. Antes de se afastar, porém, debruçou-se na janela e gritou:
– O senhor é um psicopata!
(Fernando Sabino. A falta que ela me faz. Rio de Janeiro: Record, 1995. P. 94.)

01 O texto retrata uma situação corriqueira no trânsito.
a) Com que objetivo o policial parou o motorista?
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b) O policial encontrou algum motivo para advertir ou multar o motorista? Se sim, qual?
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c) Que reação teve o motorista diante da iminência de ser multado?
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02 Diante da reação do motorista, o policial aprofunda a investigação e identifica vários
outros problemas no carro.
a) Que nova ameaça o policial faz?
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b) Qual é a reação do motorista?
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03 Releia estre trecho do texto:

“Ficaram parados, olhando um para o outro. O guarda, perplexo: será que ele não está entendendo? Qual é a sua, amizade? E David, impassível: pode desistir, velhinho, que de mim tu não vê a cor do burro de um tostão.”

Nesse trecho, o narrador deixa claro o jogo de interesse na conversa entre o policial e o
motorista.
a) Por que o policial cada vez se torna mais ameaçador?
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b) O motorista percebia as intenções do policial. Por que agia desse modo?
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04 A intenção do guarda, já no meio da conversa, pode ser percebida pela seguinte fala
do mesmo:
a) – Pare o carro! Eu salto aqui.
b) – O senhor é um psicopata!
c) – O senhor não pode imaginar o aborrecimento que ainda vai ter por causa disso.
d) – Se o senhor quisesse, a gente podia dar um jeito... O senhor sabe, com boa vontade,
tudo se arranja.
05 Cada vez mais perplexo, o policial continua a insistir em sua estratégia.
a) Que outros argumentos ele utiliza para sensibilizar o motorista?
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b) Em que passagem do texto o motorista faz o jogo do policial e utiliza as mesmas armas do
adversário?
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06 A crônica mostra uma inversão de valores. Explique por quê.
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07 Em relação ao título do texto:
a) Explique a ironia que existe nele.
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b) Psicopata é a pessoa que apresenta distúrbios mentais graves e comportamentos
antissociais. Portanto, é alguém diferente da maioria das pessoas. Pelo comentário do policial,
infira: Como as demais pessoas agem no trânsito?
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08 Que efeito de sentido tem o emprego das reticências na frase: “Se o senhor quisesse, a
gente podia dar um jeito...” ?
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09 Complete as lacunas, empregando o verbo entre parênteses de acordo com a norma
padrão. Atente para o modo e o tempo verbal adequado.
a) Meu irmão, minha prima e eu ___________________ do cinema agora. (chegar)
b) Exatamente às 20 horas _______________________ a cantora e os músicos, e o
espetáculo começou. (entrar)
c) O diretor e a coordenadora, depois de um longo intervalo após a exposição,
_______________________ o debate. (orientar)
d) Fomos nós quem __________________ esta árvore. (plantar)
e) Fui eu que _________________ a carne para o churrasco. (compra

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