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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

POEMA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA PATATIVA DO ASSARÉ

PATATATIVA DO ASSARÉ ( CANTE LÁ QUE EU CANTO CÁ)
Poeta, cantô da rua,

Que na cidade nasceu,

Cante a cidade que é sua,

Que eu canto o sertão que é meu.

Se aí você teve estudo,

Aqui, Deus me ensinou tudo,

Sem de livro precisa

Por favô, não mêxa aqui,

Que eu também não mexo aí,

Cante lá, que eu canto cá.

Você teve inducação,

Aprendeu munta ciença,

Mas das coisa do sertão

Não tem boa esperiença.

Nunca fez uma boa paioça,

Nunca trabaiou na roça,

Não pode conhece bem,

Pois nesta penosa vida,

Só quem provou da comida

Sabe o gosto que ela tem.

Pra gente cantá o sertão,

Precisa nele mora,

Te armoço de fejão

E a janta de mucunzá,

Vive pobre, sem dinhêro,

Trabaiando o dia intero,

Socado dentro do mato,

De apragata currelepe,

Pisando inriba do estrepe,

Brocando a unha-de-gato.

Você é munto ditoso,

Sabe lê, sabe escreve,

Pois vá cantando o seu gozo,

Que eu canto meu padece.

Inquanto a felicidade

Você canta na cidade,

Cá no sertão eu infrento

A fome, a dô e a misera.

Pra sê poeta divera,

Precisa tê sofrimento.

Sua rima, inda que seja

Bordada de prata e de oro,

Para a gente sertaneja

É perdido este tesôro.

Com o seu verso bem feito,

Não canta o sertão dereito

Porque você não conhece

Nossa vida aperreada.

E a dô só é bem cantada,

Cantada por quem padece.






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