Conto: Bichos de Estimação
__ Droga, não para de chover nunca mais, pra gente ir
brincar no quintal, não é, Eurico?
__ …
__ Eu sei, eu entendi. Daí você não pode enterrar seu osso
debaixo da trepadeira, senão seu focinho fica cheio de lama, e mamãe vai logo
implicar. Ela anda sempre reclamando que você anda muito sujo. Mas também, com
esse tempo, não tem nunca sol para lavar e secar você, não é Eurico?
__ …
__ Ah, entendi. Espera que eu vou desamarrar essa corda e
soltar essa coleira. Está apertando seu pescoço, não está? Deve incomodar
mesmo! Mas aqui no meu quarto não precisa. Mamãe não vai bronquear se você
ficar solto. Pronto. Assim está melhor.
__ …
__ O quê? A gente pode brincar de esconder seu osso aqui
mesmo? Boa ideia. Bate cara, Eurico!
__ …
__ Você não sabe onde escondeu o osso? Mas agora mesmo ele
estava aí do seu lado! Afinal, pra que serve esse seu nariz, hein?
__ …
__ É, eu sei. Os cachorros nunca lembram onde escondem os
ossos. Eu vejo sempre isso nos filmes da tevê…
__ …
__ Eu sei, cachorros não gostam de assistir tevê. Preferem
correr lá fora no quintal. Mas com esse tempo… Droga, está chovendo mais forte!
E justo agora que tocou a campainha. É o carteiro (coitado, está todo molhado).
Vai ver que está trazendo a carta do meu tio do Canadá e dos meus primos que eu
nem conheço.
__ …
__ Sabe, Eurico, eu escrevi para meu tio, contando do meu
cachorro de estimação. Que é você, é claro. E perguntei se eles têm cachorro em
casa. Então falei também do meu passarinho na gaiola, e que eu não gosto de
gaiola, mas tem que ter, senão ele foge e o gato do vizinho acaba comendo. E eu
contei que meu passarinho se chama Yellow, porque canário de verdade tem que
ser mesmo amarelo, é claro.
__ …
__ Mas eu não botei na história o gato cinzento que eu
salvei de cair no bueiro, e que mamãe não deixou ficar. Eu bem que vi quando
ela deu o gatinho pro lixeiro, e ele foi miando na caixa de papelão, no
caminhão do lixo. Tomara que os filhos do lixeiro gostem de gato!
__ …
__ É, eu sei. Você não gosta. Mas eu também não contei, na
minha redação, do Birau, aquele cachorro meio pelado, que era tão bonzinho e me
seguia lá do ponto do ônibus, todos os dias. Sabe, Eurico, um dia eu escondi o
Birau, no quartinho atrás do tanque, aquele de guardar garrafas vazias. Mas, a
Finoca descobriu e correu com ele de lá. Ele fugiu com o rabo no meio das
pernas. Naquele dia eu chorei escondido.
__ …
__ Foi aí que eu arrumei o Yellow w botei na gaiola. E
depois arrumei você. Na minha redação, eu conto que você é corajoso, já salvou
até gente, como os cachorros ensinados da tevê. E que eu dou banho em você, que
anda sempre limpo!
__ …
__ Olha, Eurico, eu só não levo você em uma escola de cães
porque os donos dos outros cachorros vão caçoar de mim. É que você é diferente.
Sabe como é gente… Droga! Essa chuva não para, e eu já estou cheio de não ter
nada pra fazer!
__ …
__ Agora mamãe vem vindo. Você também escutou? Ela está
subindo a escada. Será que o carteiro trouxe a resposta do meu tio do Canadá?
__ Fábio! O que você está fazendo que não desce para o
lanche?
__ …
__ É, você tem razão. É melhor destrancar a porta, senão ela
vai ficar zangada.
__ O que é isso debaixo do tapete? Eu já disse, filho! Para
com essa mania de esconder ossos debaixo das coisas. Ummmm… Que cheiro ruim é
esse? O quarto está horrível! Já sei. É essa espiga de milho dentro da gaiola
vazia. Já está podre; você tem que jogar fora. Filho porque você não brinca com
brinquedos normais, como as outras crianças? Fica aí arrastando pela casa essa
corda amarrada num travesseiro imundo…
Stella Carr, Assombrassustos, 1995
1- Quem são as personagens do conto?
2- Quais são as características psicológicas do garoto?
3- E as características psicológicas da mãe?
4- Porque o garoto não lavava seu “cachorro”?
5- Por quê no texto aparece várias vezes o seguinte recurso
“ __ …” ?
6- Qual era o maior sonho do menino?
7- Quem disse a última fala do diálogo?
8- Cite exemplos de “brinquedos normais” que a mãe de Fábio
gostaria que ele brincasse.
9- O que significa a expressão: “Ummmmm” ?
10- Porque o menino inventou animais de estimação?
11- Quantos anos você imaginou para o menino?
12- Por quê o menino ficava arrastando pela casa uma corda
amarrada num travesseiro imundo?
13- Quem eram os animais de estimação do garoto?
14- Que outra palavra podemos utilizar para substituir a
palavra imundo?
15- Além de brincar com seus animais imaginários que outras
atividades o menino realizava?
16- A mãe do menino gostava de animais? Justifique sua
resposta.
17- Quem escondeu o osso embaixo do tapete
(A) A mãe (B) O cachorro (c) o carteiro (D) Fábio
18- Na sua opinião o que a mãe do garoto deveria fazer para
o menino parar com a mania de inventar animais estimação?
19- Quantas vezes a mãe falou durante o conto?
20- Fica aí arrastando pela casa essa corda amarrada num
travesseiro imundo…
21- Copie a frase em que o menino conta uma passagem de sua
vida muito triste.
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