A incapacidade de ser verdadeiro
Paulo tinha fama de mentiroso. Um dia chegou em casa dizendo
que vira no campo dois dragões da independência cuspindo fogo e lendo
fotonovelas.
A mãe botou-o de castigo, mas na semana seguinte ele veio
contando que caíra no pátio da escola um pedaço de lua, todo cheio de
buraquinhos, feito queijo, e ele provou e tinha gosto de queijo. Desta vez
Paulo não só ficou sem sobremesa como foi proibido de jogar futebol durante
quinze dias.
Quando o menino voltou falando que todas as borboletas da
Terra passaram pela chácara de Siá Elpídia e queriam formar um tapete voador
para transportá-lo ao sétimo céu, a mãe decidiu levá-lo ao médico. Após o
exame, o Dr. Epaminondas abanou a cabeça:
— Não há nada a fazer, Dona Coló. Esse menino é mesmo um
caso de poesia.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Contos plausíveis. 7. ed. Ria
de Janeiro: Record, 2006.
1 – O que levou Paulo a ter fama de mentiroso?
Paulo ganhou fama de mentiroso por
não ater-se aos acontecimentos, sempre aumentando, fantasiando. A própria mãe o
considerava tal.
2 – Você julga Paulo mentiroso? Justifique sua resposta.
Resposta pessoal.
3 – Qual foi o motivo de Paulo receber o primeiro castigo?
O primeiro castigo Paulo recebeu no
dia em que chegou em casa dizendo que vira no campo dois dragões da
independência cuspindo fogo e lendo fotonovelas.
4 – O segundo castigo foi um pouco mais pesado. Qual foi sua
penalidade?
Da segunda vez, por ter dito que no
pátio da escola caíra um pedaço da lua, cheio de buraquinhos e que tinha gosto
de queijo, Paulo foi condenado a ficar sem sobremesa e sem jogar futebol por
quinze dias. Já pensou no que isso representa para um garoto?
5 – Da terceira vez, a mãe não aplicou castigo. Qual foi a
medida tomada por ela neste caso?
No dia em que Paulo contou que todas
as borboletas da Terra passaram pela chácara de Siá Elpídia e queriam formar um
tapete voador para levá-lo ao sétimo céu, a mãe levou-o ao médico para uma
consulta.
6 - Paulo disse que vira no campo dois dragões da
independência cuspindo
fogo e lendo fotonovelas.
a) Quem seriam os dragões da independência?
Dragões da Independência são
soldados da cavalaria, usam fardamento vermelho e branco, cores tradicionais da
cavalaria desde a Idade Média. (O 1º Regime de Cavalaria de Guardas, criado em
1808, passou a ser assim chamado em 1927. Eram estes dragões que acompanhavam
D. Pedro I quando ele declarou a independência do Brasil e são eles que fazem a
guarda e a segurança do presidente da República.)
b) O que pode ter de verdadeiro no fato narrado por Paulo?
Ele pode ter realmente visto dois
soldados.
c) E de mentiroso ou fantástico?
O fato de eles estarem cuspindo fogo
e lendo fotonovelas.
7 – De outra feita, Paulo diz que caiu no pátio da escola um
pedaço da lua, que parecia queijo e até tinha gosto de queijo, pois ele havia
provado. Explique o que há de fantasioso nesta narrativa de Paulo:
Nesta narrativa, a fantasia aparece
no fato de ter caído no pátio da escola um pedaço da lua.
8 - Para a mãe que já andava preocupa com as “mentiras” de
Paulo, foi demais ouvi-lo dizer que todas as borboletas da Terra haviam passado
pelo sítio de Siá Elpídia e que queriam formar um tapete voador para
transportá-lo ao sétimo céu.
a) O que Paulo quis dizer com “todas as borboletas da
Terra”?
Paulo viu uma grande quantidade de
borboletas voando juntas (panapaná é o coletivo), por serem muitas ele as viu
como todas da Terra.
b) O que seria o “tapete voador”?
A grande quantidade de borboletas
vista por Paulo, sugeriu-lhe a imagem de um tapete voador.
c) Pesquise sobre o significado da expressão “sétimo céu”.
Depois compare sua pesquisa com a dos colegas.
Respostas pessoais. O professor
deverá mediar a comparação das respostas.
Sugestão: Por sétimo céu entende-se
o alcance do nível máximo de felicidade, estado incomparavelmente maravilhoso.
(Segundo os muçulmanos, não existe apenas um único céu, e sim sete, todos
superpostos).
9 - Segundo o médico, a preocupação da mãe procedia? O que
ele quis dizer com “Este menino é mesmo um caso de poesia”?
Não, segundo a opinião do médico, a
mãe podia ficar tranquila, pois o menino era um caso de poesia, ou seja, Paulo
era criativo, imaginoso, um pequeno poeta.
10 – E você, já fantasiou alguma realidade? Como foi? Se
ainda não o fez, tente. Solte sua imaginação, você perceberá que é um exercício
prazeroso.
Resposta pessoal. O professor pode
levar os alunos a realizar este exercício.
Entendendo o texto:
a) Que motivos conduziram
as pessoas a achar que Paulo era mentiroso?
Ele
chegava em casa relatando que viu seres imaginários, falando coisas
improváveis, mencionando acontecimentos fantásticos – considerando-se a
realidade concreta, ele falava coisas improcedentes.
b) Apesar de ser
castigado, Paulo continua relatando à mãe situações fantasiosas. Por que você
acha que isso ocorre?
Professor,
espera-se que o aluno reconheça que Paulo tem uma imaginação fértil e que,
possivelmente, como escritor, gosta de imaginar situações, inverter histórias.
c) Releia o diagnóstico
do médico:
- Não há nada a fazer, Dona Coló. Esse menino é mesmo um
caso de poesia.
- A afirmação do médico confirma a ideia de que Paulo é
mentiroso? Explique sua resposta.
Não, o médico acha normal a imaginação criadora do menino e
diz que ele tem dons poéticos.
d)Depois de ler o texto, explique por que Paulo é incapaz de
ser verdadeiro.
O
menino é incapaz de ser verdadeiro conforme o que a mãe julgava correto. Ele
criava outra realidade, a “realidade” da fantasia, do sonho, da imaginação.
Professor, o título revela a capacidade da personagem de ir além de uma visão
comum das coisas. O poeta é alguém que dá outro significado às palavras e à
forma de ver o mundo.
e) Que outro título
poderia ter o texto?
Um
título possível seria: “Poeta por natureza”.
f) Você costuma escrever
textos poéticos? Já mostrou para alguém? Por quê?
Resposta
pessoal.
g) Quando Paulo chegou em casa dizendo que vira no campo
dois dragões-da-independência cuspindo fogo e lendo fotonovelas, a mãe:
(A) colocou-o de
castigo.
(B) deixou-o sem sobremesa.
(C) levou-o ao médico.
(D) proibiu-o de jogar futebol.
h) A mãe de Paulo ficou preocupada com o filho porque
ele
(A) machucou-se no pátio da escola.
(B) contava histórias criativas.
(C) desistiu de jogar futebol.
(D) queixou-se do médico.
i) A preocupação da mãe que a fez levar o filho ao
médico deveu-se à:
(A) fábula dos dragões-da-independência cuspindo fogo e
lendo fotonovelas.
(B) história do pedaço de lua, cheio de queijo no pátio da
escola.
(C) passagem das borboletas pela chácara de Siá Elpídia
formando um tapete voador.
(D) imaginação do menino ao criar
suas histórias fantasiosas.
j) O parecer do médico "Este menino é mesmo um caso de
poesia", sugere que Paulo
(A) agia dessa forma pelo excesso de
castigo.
(B) brincava com coisas verdadeiras.
(C) era um menino imaginativo e
criativo.
(D) estava precisando do carinho familiar.
k) Dona Coló castigava o filho porque acreditava que ele
estivesse
(A) brincando.
(B) sonhando.
(C) mentindo.
(D) teimando.
l) O texto sugere que
(A) mentira e teimosia andam juntos.
(B) mentira e fantasia são sinônimos.
(C) mentira e sonho parecem brincadeiras.
(D) mentira e imaginação são
diferentes.
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