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segunda-feira, 1 de junho de 2020

CRÔNICA O MATO RUBEM BRAGA 9º ANO RIO 18


CRÔNICA O MATO RUBEM BRAGA 9º ANO RIO 18

O mato
       Veio o vento frio, e depois o temporal noturno, e depois da lenta chuva que passou toda a manhã caindo e ainda voltou algumas vezes durante o dia, a cidade entardeceu em brumas. Então o homem esqueceu o trabalho e as promissórias, esqueceu a condução e o telefone e o asfalto, e saiu andando lentamente por aquele morro coberto de um mato viçoso, perto de sua casa. O capim cheio de água molhava seu sapato e as pernas da calça; o mato escurecia sem vaga-lumes nem grilos.
        Pôs a mão no tronco de uma árvore pequena, sacudiu um pouco, e recebeu nos cabelos e na cara as gotas de água como se fosse uma benção. Ali perto mesmo a cidade murmurava, estava com seus ruídos vespertinos, ranger de bondes, buzinar impacientes de carros, vozes indistintas; mas ele via apenas algumas árvores, um canto de mato, uma pedra escura. Ali perto, dentro de uma casa fechada, um telefone batia, silenciava, batia outra vez, interminável, paciente, melancólico. Alguém, com certeza já sem esperança, insistia em querer falar com alguém.
         Por um instante, o homem voltou seu pensamento para a cidade e sua vida. Aquele telefone tocando em vão era um dos milhões de atos falhados da vida urbana. Pensou no desgaste nervoso dessa vida, nos desencontros, nas incertezas, no jogo de ambições e vaidades, na procura de amor e de importância, na caça ao dinheiro e aos prazeres. Ainda bem que de todas as cidades do mundo o Rio é a única a permitir a evasão fácil para o mar e a floresta. Ele estava ali num desses limites entre a cidade dos homens e a natureza pura; ainda pensava em seus problemas urbanos – mas um camaleão correu de súbito, um passarinho piou triste em algum ramo, e o homem ficou atento àquela humilde vida animal e também à vida silenciosa e úmida das árvores, e à pedra escura, com uma pele de musgo e seu misterioso coração mineral.
        E pouco a pouco ele foi sentindo uma paz naquele começo de escuridão, sentiu vontade de deitar e dormir entre a erva úmida, de se tornar um confuso ser vegetal, num grande sossego, farto de terra e de água; ficaria verde, emitiria raízes e folhas, seu tronco seria um tronco escuro, grosso, seus ramos formariam copa densa, e ele seria, sem angústia nem amor, sem desejo nem tristeza, forte, quieto, imóvel, feliz.
Rubem Braga BRAGA, Rubem. O lavrador de Ipanema. Rio de Janeiro: Record, 2003.
1- No primeiro parágrafo existem trechos que marcam a passagem do tempo, explicitam espaço e modo. Transcreva-os.
Tempo__________________________________________________________
Espaço_________________________________________________________
Modo__________________________________________________________

2- Em que parte do dia se passa a crônica? Justifique sua resposta com um trecho do texto:
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3- Qual a causa de o homem ter recebido gotas de água na cara e nos cabelos? (2º. parágrafo)
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4- Que características humanas foram dadas ao telefone, no segundo parágrafo?
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5- Qual o sentido dos termos “ atos falhados” no terceiro parágrafo?
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6- A que se referem, no terceiro parágrafo, as palavras: desencontros, incertezas, jogo de ambições, procura de amor etc?
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7- De acordo com o texto, o que faz o Rio ser diferente de outras cidades?
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8- Que termos são usados pelo cronista para fazerem oposição à “natureza pura”, no terceiro parágrafo?
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9- O que permitiu ao homem ir se sentindo pouco a pouco em paz? Que trecho do texto ratifica essa afirmação?
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10- Qual o tema do texto?
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