TEXTO DE OPINIÃO
POSTO LOGO EXISTO RIO18
Posto, logo existo
Martha Medeiros
Começam a
pipocar alguns debates sobre as consequências de se passar tanto tempo
conectado à internet. Já se fala em “saturação social”, inspirado pelo recente
depoimento de um jornalista do “New York Times” que afirmou que sua
produtividade no trabalho estava caindo por causa do tempo consumido por
Facebook, Twitter e agregados, e que se vê hoje em dia diante da escolha entre
cortar seus passeios de bicicleta ou “alguns desses hábitos digitais que estão
me comendo vivo”.
Antropofagia
virtual. O Brasil, pra variar, está atrasado (aqui, dois terços dos usuários
ainda atualizam seus perfis semanalmente), pois no resto do mundo já começa a
ser articulado um movimento de desaceleração dessa tara por conexão: hotéis
europeus prometem quartos sem wi-fi como garantia de férias tranquilas,
empresas americanas desenvolvem programas de softwares que restringem o acesso
a web, e na Ásia crescem centros de recuperação de viciados em internet. Tudo
isso por uma simples razão: existir é uma coisa, viver é outra.
Penso, logo
existo. Descartes teria que reavaliar esse seu cogito, ergo sum, pois as
pessoas trocaram o verbo pensar por postar. Posto, logo existo.
Tão preocupadas
em existir para os outros, as pessoas estão perdendo um tempo valioso em que
poderiam estar vivendo, ou seja, namorando, indo à praia, trabalhando,
viajando, lendo, estudando, cercados não por milhares de seguidores, mas por
umas poucas dezenas de amigos. Isso não pode ter se tornado tão obsoleto.
Claro que
muitos usam as redes sociais como forma de aproximação, de resgate e de
compartilhamento – numa boa. Se a pessoa está no controle do seu tempo e não
troca o virtual pelo real, está fazendo bom uso da ferramenta. Mas não tem sido
a regra. Adolescentes deixam de ir a um parque para ficarem trancafiados em
seus quartos, numa solidão disfarçada de socialização. Isso acontece dentro da
minha casa também, com minhas filhas, e não adianta me descabelar, elas são
frutos da sua época, os amigos se comunicam assim, e nem batendo com um gato
morto na cabeça delas para fazê-las entender que a vida está lá fora. Lá fora!!
Não me interessa que elas existam para Tati, pra Rô, pro Cauê. Quero que elas
vivam.
O grau de
envolvimento delas com a internet ainda é mediano e controlado, mas tem sido
agudo entre muitos jovens sem noção [...]. São garotos e garotas que não se
sentem com sua existência comprovada, e para isso se valem de bizarrice na
esperança de deixarem de ser “ninguém” para se tornarem “alguém”, mesmo que
alguém medíocre.
Casos avulsos,
extremos, mas estão aí, ao nosso redor. Gente que não percebe a diferença entre
existir e viver. Não entendem que é preferível viver, mesmo que discretamente,
do que existir de mentirinha para 17.870 que não estão nem aí.
Revista O Globo. Ano 8. 25 de março de 2012.
1- Qual o sentido da palavra pipocar, no primeiro parágrafo?
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2- Qual a causa de a produtividade no trabalho de um
jornalista do “New York Times” ter diminuído?
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3- O trecho “ alguns desses hábitos digitais que estão me
comendo vivo” , no primeiro parágrafo, aparece entre aspas. Por quê?
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4- O que tem sido feito na Europa e nos Estados Unidos para
diminuir o uso da internet? Retire do texto o trecho que confirma sua resposta.
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5- Segundo o texto, o que significa fazer bom uso das
ferramentas virtuais?
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6- A crônica, gênero textual em que fatos do cotidiano estão
presentes, possui, geralmente, uma linguagem informal para tentar se aproximar
de seus leitores. Retire do texto dois exemplos que comprovam essa afirmação:
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7- A quem se refere a palavra destacada no trecho: “ O grau
de envolvimento delas com a internet ainda é mediano e controlado
[...]”. (6.º parágrafo)
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8- O que significa, no texto, “solidão disfarçada de
socialização”. (5.º parágrafo) ______________________________________________________________________________________________________________________________
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9- Qual o efeito de sentido das exclamações e da repetição
em “Lá fora!!”, no quinto parágrafo?
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10- . Qual a tese defendida no texto? Cite um parágrafo que
contenha argumentos usados para defendê-la:
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