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segunda-feira, 1 de junho de 2020

CONTO NO CAMINHO INEXISTENTE MARINA COLASANTI 9º ANO RIO18


CONTO NO CAMINHO INEXISTENTE 9º ANO RIO18

No caminho inexistente
       Ia a filha muda guiando o pai cego quando, depois de muito caminhar, chegaram ao deserto. E sentindo o pai a areia nas sandálias, acreditou ter chegado ao mar e alegrou-se.
       O mar estava para sempre gravado na sua memória, disse ele à filha que nunca o havia visto. E contou como podiam ser altas as ondas, e obedientes ao vento. E como, coroadas de espuma, faziam e desfaziam seu penteado. O mar, contou ainda, ocupa nossos olhos por inteiro e, se o vemos nascer, o fim não vemos. O mar sempre se move e sempre está parado. O mar, à noite, veste-se de lua. O mar pareceu duas vezes belo à menina, pelo que era e pelas palavras do pai. Olhou à sua frente, viu as altas dunas e chamou-as ondas no seu coração. Elas obedeciam ao vento e no alto entregavam-lhe seus cabelos para que os desmanchasse com dedos ligeiros.
       Sentaram-se os dois, o pai olhando no escuro o mar que guardava na memória, a filha deixando que o mar de luz sem fim ocupasse todo o espaço do seu olhar. Parado diante dela, ainda assim se movia. E quando a noite chegou, vestiu o cetim que a lua lhe entregara. Dormiram ali os dois, pai e filha, deitados na areia, sonhando com o que haviam visto. E ao amanhecer seguiram caminho, afastando-se do deserto.
       Andaram, que o mundo é vasto. Até que um dia, numa curva do caminho, desembocaram na praia.
       O velho, sentindo a areia nas sandálias, alegrou-se, certo de ter chegado ao deserto, talvez o mesmo deserto que atravessara quando jovem.
       Sentaram. O deserto, disse o pai à menina, é filho dileto do sol. E a menina olhando à frente, viu os raios deitando na superfície, partindo-se, rejuntando-se, mosaico de sol, e sorriu. Os pés afundam no deserto, acrescentou o pai, e ele acaricia nossos tornozelos. A menina soltou sua mão da dele e foi molhar os pés, deixando que a água lhe acariciasse os tornozelos. O deserto, disse ainda o pai, é plano como um lençol ao vento, sem montanhas, ondeando nas costas das dunas. A menina correu o olhar pela linha do horizonte que nenhuma montanha interrompia, viu as ondas, e em seu coração chamou-as dunas.
       No deserto, disse ainda o pai à filha tentando explicar o mundo sobre o qual não podia fazer perguntas, anda-se sempre em frente porque não há caminhos, e a pegada do pé direito já se apaga quando o pé esquerdo pisa adiante.
       Levantaram-se, caminhando. E porque o velho pisava seguro no deserto da sua lembrança, e porque a menina pisava tranquila no deserto que lhe havia sido entregue pelo pai, seguiram adiante serenos por cima da água que lhes acolhia os pés acarinhando os tornozelos, enquanto suas pegadas se apagavam no caminho inexistente.

COLASANTI, Marina. 23 histórias de um viajante. São Paulo: Editora Global, 2005.

1- Quais os personagens do conto?
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2- Por que o pai acreditou ter chegado ao mar?
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3- A quem se refere o pronome destacado no trecho: “O mar estava para sempre gravado na sua memória, disse ele à filha que nunca o havia visto.”
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4- Como o pai descreve o mar no segundo parágrafo?
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5- No segundo parágrafo, o pai atribui ao vento uma característica humana ─ o que chamamos de personificação . Transcreva esse trecho:
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6- A que se refere o termo “ mar de luz”, no terceiro parágrafo?
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7- Que características do mar e do deserto se repetem no segundo e no terceiro parágrafos?
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8- No sexto parágrafo há uma comparação. Transcreva-a e marque o termo que explicita essa comparação.
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9- A escolha de cada palavra é fundamental na construção de um texto, podendo reforçar diferentes ideias ─ um tom agressivo, afetuoso, tenso... No conto, destaque palavras e/ou expressões que colaboram para construir um tom afetuoso.
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10- Pode-se dizer que pai e filha estavam nos mesmos lugares, juntos, em todo o texto, mas o ponto de vista de cada um sobre esses espaços era diferente? Explique.
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