POESIA: A BOMBA SUJA -
FERREIRA GULLAR - COM QUESTÕES GABARITADAS
Poesia: A Bomba Suja
Ferreira
Gullar
Introduzo na poesia
A palavra diarreia.
Não pela palavra fria
Mas pelo que ela semeia.
Quem fala em flor não diz tudo.
Quem me fala em dor diz demais.
O poeta se torna mudo
sem as palavras reais.
No dicionário a palavra
é mera ideia abstrata.
Mais que palavra, diarreia
é arma que fere e mata.
Que mata mais do que faca,
mais que bala de fuzil,
homem, mulher e criança
no interior do Brasil.
Por exemplo, a diarreia,
no Rio Grande do Norte,
de cem crianças que nascem,
setenta e seis leva à morte.
É como uma bomba D
que explode dentro do homem
quando se dispara, lenta,
a espoleta da fome.
É uma bomba-relógio
(o relógio é o coração)
que enquanto o homem trabalha
vai preparando a explosão.
Bomba colocada nele
muito antes dele nascer;
que quando a vida desperta
nele, começa a bater.
Bomba colocada nele
Pelos séculos de fome
e que explode em diarreia
no corpo de quem não come.
Não é uma bomba limpa:
é uma bomba suja e mansa
que elimina sem barulho
vários milhões de crianças.
Sobretudo no nordeste
mas não apenas ali
que a fome do Piauí
se espalha de leste a oeste.
Cabe agora perguntar
quem é que faz essa fome,
quem foi que ligou a bomba
ao coração desse homem.
Quem é que rouba a esse homem
o cereal que ele planta,
quem come o arroz que ele colhe
se ele o colhe e não janta.
Quem faz café virar dólar
e faz arroz virar fome
é o mesmo que põe a bomba
suja no corpo do homem.
Mas precisamos agora
desarmar com nossas mãos
a espoleta da fome
que mata nossos irmãos.
Mas precisamos agora
deter o sabotador
que instala a bomba da fome
dentro do trabalhador.
E sobretudo é preciso
trabalhar com segurança
pra dentro de cada homem
trocar a arma de fome
pela arma da esperança.
GULLAR, Ferreira.
Entendendo a poesia:
01 – No poema “A bomba
suja”, Ferreira Gullar emprega algumas características do Pós-Modernismo
Brasileiro. Identifique uma e justifique-a.
Características
do pós-modernismo:
-
Hiper-realismo;
-
Humor e crítica;
-
Polifonia e intertextualidade;
-
Imprecisão e espontaneidade;
-
Imaginação e criatividade.
02 – Que figura de
linguagem predomina nos versos do poema? Justifique sua resposta.
Predomina
a metáfora (quando utilizamos uma palavra em lugar de outra por haver entre
elas uma relação de semelhança).
03 – O poema:
A) denuncia a exploração
do povo brasileiro a quem são negados os direitos fundamentais.
B) evidencia os efeitos
da recessão econômica sobre o povo brasileiro.
C) apresenta o homem — em
face da fome — desapegado à vida.
D) condena a ação do
estrangeiro no Brasil, seduzindo o povo com sua moeda forte: o dólar.
04 – No poema, o sujeito
poético:
A) revela-se consciente
do seu papel transformador da realidade.
B) demonstra insegurança quanto
à identificação do agente causador do flagelo da fome brasileira.
C) critica a indiferença
das minorias privilegiadas em relação ao sofrimento de seus semelhantes,
D) procura, através de
denúncias, alcançar o inatingível.
05 – O poema
caracteriza-se:
A) pela linearidade
discursiva.
B) pela valorização do
descritivismo.
C) pela ambiguidade do
discurso.
D) pelo uso de um tom
coloquial.
06 – Qual é o assunto
dominante da poesia?
“A
bomba suja” não visa propriamente à expressão de um estado d’alma e sim à
persuasão de um fato concreto com existência comprovada – a fome como “causa
mortis” do povo brasileiro: “Bomba colocada nele / Pelos séculos de fome / E
que explode em diarreia / No corpo de quem não come.”
07 – Que problemas
sociais o poeta enfoca na poesia?
Fome
e desigualdade social.
08 – Quais os estados
mais atingidos pela suposta “bomba”?
Rio
Grande do Norte e Piauí.
09 – Escreva a estrofe em
que o poeta sugere acabar o problema.
“E
sobretudo é preciso
trabalhar com segurança
pra dentro de cada homem
trocar a arma de fome
pela arma da esperança.”
10 – O que o poeta quis
dizer nos versos: “Por exemplo, a diarreia, / no Rio Grande do
Norte, / de cem crianças que nascem, / setenta e seis leva à morte.”
Significa
o alto índice de mortalidade infantil neste estado.
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