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quarta-feira, 17 de junho de 2020

POEMA PROTEXTO A BOMBA SUJA 9º ANO armazém


POESIA: A BOMBA SUJA - FERREIRA GULLAR - COM QUESTÕES GABARITADAS
Poesia: A Bomba Suja
                                Ferreira Gullar 
Introduzo na poesia
A palavra diarreia.
Não pela palavra fria
Mas pelo que ela semeia.

Quem fala em flor não diz tudo.
Quem me fala em dor diz demais.
O poeta se torna mudo
sem as palavras reais.

No dicionário a palavra
é mera ideia abstrata.
Mais que palavra, diarreia
é arma que fere e mata.

Que mata mais do que faca,
mais que bala de fuzil,
homem, mulher e criança
no interior do Brasil.

Por exemplo, a diarreia,
no Rio Grande do Norte,
de cem crianças que nascem,
setenta e seis leva à morte.
É como uma bomba D
que explode dentro do homem
quando se dispara, lenta,
a espoleta da fome.

É uma bomba-relógio
(o relógio é o coração)
que enquanto o homem trabalha
vai preparando a explosão.

Bomba colocada nele
muito antes dele nascer;
que quando a vida desperta
nele, começa a bater.

Bomba colocada nele
Pelos séculos de fome
e que explode em diarreia
no corpo de quem não come.

Não é uma bomba limpa:
é uma bomba suja e mansa
que elimina sem barulho
vários milhões de crianças.

Sobretudo no nordeste
mas não apenas ali
que a fome do Piauí
se espalha de leste a oeste.

Cabe agora perguntar
quem é que faz essa fome,
quem foi que ligou a bomba
ao coração desse homem.

Quem é que rouba a esse homem
o cereal que ele planta,
quem come o arroz que ele colhe
se ele o colhe e não janta.

Quem faz café virar dólar
e faz arroz virar fome
é o mesmo que põe a bomba
suja no corpo do homem.

Mas precisamos agora
desarmar com nossas mãos
a espoleta da fome
que mata nossos irmãos.

Mas precisamos agora
deter o sabotador
que instala a bomba da fome
dentro do trabalhador.

E sobretudo é preciso
trabalhar com segurança
pra dentro de cada homem
trocar a arma de fome
pela arma da esperança.


GULLAR, Ferreira. 
Entendendo a poesia:
01 – No poema “A bomba suja”, Ferreira Gullar emprega algumas características do Pós-Modernismo Brasileiro. Identifique uma e justifique-a.
      Características do pós-modernismo:
      - Hiper-realismo;
      - Humor e crítica;
      - Polifonia e intertextualidade;
      - Imprecisão e espontaneidade;
      - Imaginação e criatividade.

02 – Que figura de linguagem predomina nos versos do poema? Justifique sua resposta.
      Predomina a metáfora (quando utilizamos uma palavra em lugar de outra por haver entre elas uma relação de semelhança).

03 – O poema:
A) denuncia a exploração do povo brasileiro a quem são negados os direitos fundamentais.
B) evidencia os efeitos da recessão econômica sobre o povo brasileiro.
C) apresenta o homem — em face da fome — desapegado à vida.
D) condena a ação do estrangeiro no Brasil, seduzindo o povo com sua moeda forte: o dólar.

04 – No poema, o sujeito poético:
A) revela-se consciente do seu papel transformador da realidade.
B) demonstra insegurança quanto à identificação do agente causador do flagelo da fome brasileira.
C) critica a indiferença das minorias privilegiadas em relação ao sofrimento de seus semelhantes,
D) procura, através de denúncias, alcançar o inatingível.

05 – O poema caracteriza-se:
A) pela linearidade discursiva.
B) pela valorização do descritivismo.
C) pela ambiguidade do discurso.
D) pelo uso de um tom coloquial.

06 – Qual é o assunto dominante da poesia?
      “A bomba suja” não visa propriamente à expressão de um estado d’alma e sim à persuasão de um fato concreto com existência comprovada – a fome como “causa mortis” do povo brasileiro: “Bomba colocada nele / Pelos séculos de fome / E que explode em diarreia / No corpo de quem não come.”

07 – Que problemas sociais o poeta enfoca na poesia?
      Fome e desigualdade social.

08 – Quais os estados mais atingidos pela suposta “bomba”?
      Rio Grande do Norte e Piauí.

09 – Escreva a estrofe em que o poeta sugere acabar o problema.
     “E sobretudo é preciso
      trabalhar com segurança
      pra dentro de cada homem
      trocar a arma de fome
      pela arma da esperança.”


10 – O que o poeta quis dizer nos versos: “Por exemplo, a diarreia, / no Rio Grande do Norte, / de cem crianças que nascem, / setenta e seis leva à morte.”
      Significa o alto índice de mortalidade infantil neste estado.


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