CRÔNICA
9º ANO A MENSAGEM NA GARRAFA RIO 18
A crônica tem, como traço marcante, o olhar
para o cotidiano, registrado em um texto geralmente conciso. A vivência do
cronista e suas observações sobre a vida, sobre fatos banais – “pitorescos ou
irrisórios” – do dia a dia, são assuntos de uma crônica.
Antônio Cândido
nos conta um pouco mais sobre a história da crônica: “Antes de ser crônica
propriamente dita foi “folhetim”, ou seja, um artigo de rodapé sobre as
questões do dia – políticas, sociais, artísticas, literárias. [...] Aos poucos
o “folhetim” foi encurtando e ganhando certa gratuidade, certo ar de quem está
escrevendo à toa, sem dar muita importância. Depois, entrou francamente pelo
tom ligeiro e encolheu de tamanho, até chegar ao que é hoje.”
In: Crônicas,
5/ Carlos Drummond de Andrade... [et al.]. São Paulo: Ática, 2011. (Para
gostar de ler).
A palavra CRÔNICA tem sua origem em khrónos,
vocábulo grego que significa tempo. Ela é, em geral, publicada em
jornais, em revistas, em blogs, que são publicações que obedecem a uma
periodicidade de tempo.
A MENSAGEM NA GARRAFA
Como outros
escritores veteranos recebo muitas obras de estreantes. Livros de contos, de
poesia, crônicas, um ou outro romance; edições modestas, precárias até, várias
delas obviamente pagas pelos próprios autores ─ é difícil arranjar editora
quando se está começando. Sempre que posso mando algumas linhas para o
remetente, ao menos para dizer que o livro chegou e que, se possível, vou
lê-lo. Faço isso porque lembro o jovem escritor que fui, a ansiedade com que
procurava fazer chegar meus textos às mãos de pessoas que conhecia e admirava.
Esses dias recebi de um contista do Nordeste uma carta em que ele me agradece o
fato de lhe ter respondido. E diz: “O difícil não é a gente escrever; difícil, mesmo,
é encontrar alguém que leia o que a gente escreve. Pior do que não ter a quem
contar o que a gente sente é contar o que a gente sente a quem não sente o que
a gente conta.”
***
Nestas frases
está todo o drama da incomunicabilidade humana. Todos nós temos os nossos
sofrimentos, as nossas angústias; todos nós queremos expressar essas coisas sob
a forma de palavras, faladas ou, como acontece em alguns casos, escritas. Se há
talento nisso, se o desabafo se transforma em literatura, é outra questão. O
ponto crucial é que temos mensagens a transmitir, precisamos transmiti-las e
não sabemos se alguém vai recebê-las. Aí se aplica a clássica metáfora do
náufrago na ilha deserta que escreve um bilhete, e coloca-o numa garrafa e
joga-a ao mar. Essa garrafa chegará a alguém? E esse alguém fará alguma coisa
pelo náufrago? Ou estará o potencial salvador tão envolvido com seus próprios
problemas que jogará fora garrafa e bilhete? Nós temos, sim, a capacidade de
entender o outro, de corresponder a seu anseio. Chama-se empatia isso. Mas a
capacidade de ser empático varia de pessoa a pessoa, e, numa mesma pessoa,
varia com sua disposição momentânea. Há momentos em que estamos dispostos a
recolher a
garrafa da areia da praia e ler a mensagem que ali está. E,
em outros momentos, passamos pela mesma garrafa e a vemos como prova de que as pessoas
jogam lixo em qualquer lugar.
Os escritores
não estão imunes a essas dúvidas e ansiedades. Ninguém escreve para a gaveta;
todo mundo escreve para ser lido. Não necessariamente por multidões; cem
leitores já me bastariam, dizia o grande Flaubert, que hoje é lido por milhões.
Franz Kafka , um dos escritores mais revolucionários do século XX, tinha um
público muito reduzido; conta-se que, quando foi publicada uma de suas obras,
ele perguntou numa livraria próxima à sua casa quantos exemplares haviam sido
vendidos. Onze, foi a resposta do livreiro. “Dez fui eu que comprei”, replicou
Kafka, acrescentando: “Eu só queria saber quem foi o décimo primeiro.” Ao
morrer (ainda jovem, de tuberculose), Kafka pediu ao amigo Max Brod que
destruísse os originais ainda inéditos: era coisa que não valia a pena. Brod
não atendeu a esse pedido e a humanidade lhe agradece: graças a ele, temos
acesso a uma obra extraordinária. [...] Só vivemos realmente se contraímos
laços com outras pessoas, e para estabelecer esses laços usamos a palavra
falada ou escrita. É a nossa mensagem na garrafa. Só resta esperar que as
mensagens cheguem a seu destino.
SCLIAR, Moacyr. Contos e crônicas para ler na escola.Rio de
Janeiro: Objetiva, 2011.
1 – Transcreva do primeiro parágrafo uma frase em que há:
a) uma comparaçã
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b) uma opinião
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c) uma condição
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2 – Segundo o cronista, o que todos nós desejamos? (segundo
parágrafo)
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3 – Qual a definição de empatia presente no texto?
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4 – A que se refere o termo destacado em “E, em outros
momentos, passamos pela mesma garrafa e a vemos como prova de que as
pessoas
jogam lixo em qualquer lugar” ?
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5 – No trecho que se segue, marque a causa: “Kafka pediu ao
amigo Max Brod que destruísse os originais ainda inéditos: era coisa que não
valia a pena”.
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6 – Retire do texto um trecho que explicita o diálogo com o
leitor.
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