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domingo, 31 de maio de 2020

ROMANCE O MENINO NO ESPELHO FRAGMENTO 9º ANO RIO18


ROMANCE O MENINO NO ESPELHO FRAGMENTO  9º ANO RIO18

     Os próximos textos são trechos de um ROMANCE. O romance é outro gênero de base narrativa, como o conto. Podemos dizer que uma diferença essencial entre eles é que o conto possui somente um conflito gerador e o romance pode ter vários. Fique atento, pois os textos são o PRÓLOGO – parte inicial , introdutória – e o EPÍLOGO – parte final, conclusão – de um romance


PRÓLOGO
O menino e o homem
     Quando chovia, no meu tempo de menino, a casa virava um festival de goteiras. Eram pingos do teto ensopando o soalho de todas as salas e quartos. Seguia-se um corre-corre dos diabos, todo mundo levando e trazendo baldes, bacias, panelas, penicos e o que mais houvesse para aparar a água que caía e para que os vazamentos não se transformassem numa inundação. Os mais velhos ficavam aborrecidos, eu não entendia a razão: aquilo era uma distração das mais excitantes.
       E me divertia a valer quando uma nova goteira aparecia, o pessoal correndo para lá e para cá, e esvaziando as vasilhas que transbordavam.
     Os diferentes ruídos das gotas d´água retinindo no vasilhame, acompanhados do som oco dos passos em atropelo nas tábuas largas do chão, formavam uma alegre melodia, às vezes enriquecida pelas sonoras pancadas do relógio de parede dando horas.
     Passado o temporal, meu pai subia ao forro da casa pelo alçapão, o mesmo que usávamos como entrada para a reunião da nossa sociedade secreta. Depois de examinar o telhado, descia, aborrecido. Não conseguia descobrir sequer uma telha quebrada, por onde pudesse penetrar tanta água da chuva, como invariavelmente acontecia. Um mistério a mais, naquela casa cheia de mistérios.
[...]
EPÍLOGO
O homem e o menino
    Paro de escrever, levanto os olhos do papel para o relógio de parede: cinco horas. As sonoras pancadas começam a soar uma a uma, como antigamente em nossa casa.
     É um relógio bem antigo. Foi do meu avô, depois do meu pai, hoje é meu e um dia será do meu filho. Seu tique-taque imperturbável me acompanha todas as horas de vigília o dia inteiro e noite adentro, segundo a segundo, do tempo vivido por mim. [...]
     Cansado de tantas recordações, afasto-me do relógio e caminho até a janela, olho para fora.
     Assombrado, em vez de ver os costumeiros edifícios, cujos fundos dão para o meu apartamento em Ipanema, o que eu vejo é uma mangueira ─ a mangueira do quintal de minha casa, em Belo Horizonte. Vejo até uma manga amarelinha de tão madura, como aquela que um dia quis dar para a Mariana e por causa dela acabei matando uma rolinha. Daqui da minha janela posso avistar todo o quintal, como antigamente: a caixa de areia que um dia transformei numa piscina, o bambuzal de onde parti para o meu primeiro voo. Volto-me para dentro e descubro que já não estou na sala cheia de estantes com livros do meu apartamento, mas no meu quarto de menino: a minha cama e a do Toninho, o armário de cujo espelho um dia se destacou um menino igual a mim...
     Saio para a sala. Vejo meus pais conversando de mãos dadas no sofá, como costumavam fazer todas as tardes, antes do jantar. Comovido, dirijo-me a eles:
    ─ Papai... Mamãe...
     Mas eles não me veem. Nem parecem ter-me ouvido, como se eu não existisse. Ganho o corredor, passo pela copa onde o relógio está acabando de bater cinco horas. Atravesso a cozinha, vendo a Alzira a remexer em suas panelas, sem tomar conhecimento da minha existência. Desço a escada para o quintal e dou com um garotinho agachado junto às poças d´água da chuva que caiu há pouco, entretido com umas formigas. Dirijo-me a ele, e ficamos conversando algum tempo.
     Depois me despeço e refaço todo o caminho de volta até o meu quarto. Vou à janela, olho para fora. O que vejo agora é a paisagem de sempre, o fundo dos edifícios voltados para mim, iluminados pelas luzes do entardecer em Ipanema. Ouço o relógio soando a última pancada das cinco horas. Viro-me, e me vejo de novo no meu apartamento.
      Caminho até a mesa, debruço-me sobre a máquina que abandonei há instantes. Leio as últimas palavras escritas no papel:
... Até desaparecer em direção ao infinito.
    Sento-me, e escrevo a única que falta:
FIM
SABINO, Fernando. O menino no espelho. Rio de Janeiro: Record, 1998

1 – Qual a causa do corre-corre na casa do menino?
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2 – Qual o trecho do texto que nos deixa perceber que havia muitas goteiras?
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3 – Como os mais velhos e o menino encaravam as goteiras da casa?
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4 – Após ler o prólogo e o epílogo, responda quem é o narrador em cada uma das partes do romance:
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5 – Um jogo de palavras foi utilizado em cada uma das partes para antecipar essa informação. Onde ocorre e como se dá o jogo de palavras?
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6 – No trecho do epílogo “Cansado de tantas recordações, afasto-me do relógio e caminho até a janela, olho para fora.” A que se refere a
palavra destacada?
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7 – Onde morou o narrador-personagem?
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8 – Da janela do seu apartamento, em Ipanema, o que o narrador-personagem imagina que vê e, depois do momento de recordação, o que vê
realmente?
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9 – Que elementos são característicos desse quintal, na infância, em Belo Horizonte?
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10 – Que efeito causa no narrador suas lembranças da infância?
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11- Por que os pais do narrador-personagem e Alzira não o veem?
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12 – Ao longo do epílogo, podemos perceber, explicitamente, palavras que representam os estados físicos e emocionais do narrador. Localize e
transcreva essas palavras.
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13 – Que elemento do apartamento do narrador, em Ipanema, proporciona a viagem ao passado e o retorno ao presente?
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01 – Qual a causa do corre-corre na casa do menino?
      Quando chovia a casa virava um festival de goteiras.

02 – Qual o trecho do texto que nos deixa perceber que havia muitas goteiras?
      “Seguia-se um corre-corre dos diabos, todo mundo levando e trazendo baldes, bacias, panelas, penicos e o que mais houvesse para aparar a água que caía e para que os vazamentos não se transformassem numa inundação.” 

03 – Como os mais velhos e o menino encaravam as goteiras da casa?
      “Os mais velhos ficavam aborrecidos, eu não entendia a razão: aquilo era uma distração das mais excitantes.”

04 – Após ler o prólogo e o epílogo, responda quem é o narrador em cada uma das partes do romance.
      É o autor Fernando Sabino.

05 – No trecho do epílogo “Cansado de tantas recordações, afasto-me do relógio e caminho até a janela, olho para fora.” A que se refere a palavra destacada?
      Era um relógio antigo que o fazia lembrar-se de sua infância.

06 – Onde morou o narrador-personagem?
      Em Belo Horizonte.

07 – Da janela do seu apartamento, em Ipanema, o que o narrador-personagem imagina que vê e, depois do momento de recordação, o que vê realmente?
      Uma mangueira do seu quintal. Ele vê a paisagem de sempre, o fundo dos edifícios voltado para ele.

08 – Que elementos são característicos desse quintal, na infância, em Belo Horizonte?
      A caixa de areia que um dia transformei numa piscina, o bambuzal de onde parti para o meu primeiro voo.

09 – Que efeito causa no narrador suas lembranças da infância?
      As lembranças de como era o quarto, a sala e o que tinha neles.

10 – Por que os pais do narrador-personagem e Alzira não o veem?
      Porque era somente uma lembrança de imagens vivida por ele.

11 – Ao longo do epílogo, podemos perceber, explicitamente, palavras que representam os estados físicos e emocionais do narrador. Localize e transcreva essas palavras.
      Estado físico: homem de meia idade. “... hoje é meu e um dia será do meu filho”.
      Estado emocional: saudades de sua infância. “... como antigamente em nossa casa.”

12 – Que elemento do apartamento do narrador, em Ipanema, proporciona a viagem ao passado e o retorno ao presente?
      É um relógio bem antigo, que foi do teu avô e do pai.


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