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domingo, 17 de maio de 2020

CONTO CONTEMPORÂNEO BILHETE COM FOGUETÃO 7º ANO ALPHA P. 45

CONTO CONTEMPORÂNEO

Bilhete com foguetão (Ondajaki. Escritor angolano)
        Com um beijinho para a Petra
        Foi no tempo da terceira classe.
         Quando a Petra entrou na sala já deviam ser umas três da tarde. Lembro-me disso porque nós sabíamos mais ou menos as horas pelo modo como as sombras invadiam a sala de aulas.
         A Petra tinha o tom de pele escuro, bem bronzeado, e vinha com umas roupas bem bonitas que se fosse a minha mãe não me deixava vestir assim num dia normal de aulas. Uma mochila toda colorida como quase ninguém tinha naquela época. Então eu acho que tudo aconteceu em poucos minutos, assim muito de repente.
       Já não consegui prestar atenção à aula e a Marisa, que sentava na carteira ao lado, reparou que eu estava toda a hora a olhar. A delegada de turma também viu. E a Petra também. [...] Fiquei todo intervalo na sala, na minha carteira, a rasgar as folhas onde eu tentava escrever um bilhete para a Petra.
       Depois do intervalo todos regressaram com respiração depressada e o suor do corpo a molhar as roupas, alegres também porque a camarada professora Berta disse que ainda ia demorar. Deu ordens à delegada para sentar todo mundo e apontar numa lista o nome dos indisciplinados.
       Primeiro houve aquele silêncio assim de cinco minutos que todos têm medo de ficar na lista e ninguém quase se mexe. Depois começaram a desenhar, jogar batalha naval e tentar pedir com licença à delegada para falar com alguém. O meu bilhete estava pronto, dobrado, mas eu não sabia na minha cabeça se devia ou não dar o bilhete à Petra.
       A Marisa olhava para mim como quem perguntava alguma coisa. E essa resposta que ela queria com palavras ou um olhar, eu também não tinha para mim. Mesmo sem ter ido jogar futebol, eu suava na testa e nas mãos.
        Fiz sinal à delegada que queria falar com ela, mas ela disse que não. A Marisa disse-me então que ela podia ir.
        - Entrego a quem?
        - À Petra.
        A Marisa nem esperou eu ter acabado bem de decidir, tirou-me o bilhete da mão e foi a correr. O meu olhar acompanhou a Marisa na corrida em direção à Petra e de repente me deu uma tristeza enorme quando a vi passar além da Petra e entregar o papel já meio aberto à delegada de turma.
        A delegada mandou todos fazerem um silêncio que eu não conseguia engolir na minha garganta dura. Era o meu fim. Como é que eu ia enfrentar os rapazes depois daquele bilhete para a Petra a dizer que ela tinha «um estojo bonito com cores de Carnaval da Vitória e a mochila também, pelo tipo mousse de chocolate e uns olhos que, de longe, pareciam duas borboletas quietas e brilhantes»?
        Cruzei os braços na carteira, escondi a cabeça, fechei os olhos, e pelos risos eu ia entendendo o que se passava ali. Quando ela acabou de ler, houve um silêncio e eu sabia que a delegada devia estar a olhar para o desenho. Como eu não sabia desenhar quase nada, tinha feito um pequeno foguetão desajeitado porque achei que fazer flores também já era de mais. A delegada riu uma gargalhada só dela, bem alto. A Marisa quis saber o que era. Ela amarrotou o bilhete e guardou no estojo.
         - Ele desenhou um «fojetão».
          - Um «fojetão»?!
       Aí eu confirmei na minha cabeça que aquela menina não podia ser nossa delegada porque ela não sabia ler o «gue», e eu tinha a certeza absoluta de ter escrito «foguetão». A camarada professora Berta entrou e eu estremeci, pensei que fossem me queixar do bilhete, mas nada, todos estavam parados, como borboletas!, isso mesmo, borboletas quietas.
       No fim da tarde, a Petra foi logo embora sem falar com ninguém, e os rapazes da minha turma foram bem simpáticos, ninguém me estigou e até o Filomeno, que era tão calado, deu-me uma pancada leve nas costas que eu entendi tudo sem ele ter dito nada com a boca.
        Cheguei a casa muito confuso e um pouco triste, mas já não queria falar mais do bilhete.
       - Correu bem o dia? – a minha mãe me deu um beijinho.
        - Sim foi bom – tirei a mochila das costas. – Mãe, foguetão não é com «gue», como na palavra guerra?
        - Claro que sim, filho. Olhei devagar para ela. Fiquei a sorrir. A minha mãe também tem uns olhos assim enormes bem bonitos de olhar.
Ondjaki, Os da Minha Rua – estórias, Lisboa, Editorial Caminho, 2007. LEITURA

1. Em que tempo e espaço se passa a história vivida pelo protagonista?
TEMPO (Quando aconteceu?).....................................................................
TEMPO(Duração da história?)......................................................................
ESPAÇO(Onde aconteceu?)........................................................................

2. Quais palavras no texto indicam o espaço?
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3. Qual é o foco narrativo do conto? (1ª pessoa ou 3ª pessoa) Justifique com trechos do texto.
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4. Resuma cada um dos elementos do conto:
Situação inicial (começo da narrativa)
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Conflito (problema que surgiu na narrativa)
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Clímax (ponto mais alto, de maior tensão para a personagem)
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Desfecho( fim, solução do conflito)
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5. Após o clímax, o protagonista muda sua visão a respeito da delegada da turma. Que acontecimento marca essa mudança?
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6. Releia essa frase do conto: “A delegada mandou todos fazerem um silencio que eu não conseguia engolir na minha garganta dura”.
a) Marque a relação de sentido que a palavra destacada estabelece entre as palavras que liga?
I. causa
II. consequência
III. lugar
IV. tempo

b) Que palavra ajuda a determinar ou modificar o sentido do substantivo garganta?
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c) Que significado a expressão “na minha garganta dura” indica sobre a personagem ?
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7. Quem é o autor do conto? Qual o seu país de origem?
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8.De acordo com o contexto, qual o significado da palavra delegada presente no conto. (Se não souber pesquise no livro p. 45)
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9. Mesmo sem ter ido jogar futebol, eu suava na testa e nas mãos. De acordo com o texto, por que a personagem suava?
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10.        - Sim foi bom – tirei a mochila das costas. – Mãe, foguetão não é com «gue», como na palavra guerra?
        - Claro que sim, filho. Olhei devagar para ela. Fiquei a sorrir.  Que sentimento os verbos destacados indicam que a personagem estava sentindo?
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ADAPTADO DE: COSTA, Cibele Lopresti, Geração Alpha Língua portuguesa: ensino fundamental: anos finais: 7ºano­­-2ª ed. - São Paulo: Edições SM, 2018.


UNIDADE ESCOLAR C.M. BOTAFOGO
Elaborado pelo professor Diorges Ferranti Gonçalves 

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