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sábado, 9 de maio de 2020

CRÔNICA: O MENINO NO ESPELHO TECENDO LINGUAGNES P.17 6º ANO


CRÔNICA: O MENINO NO ESPELHO - FERNANDO SABINO
     
          Fernando Sabino

        [...]
        Levantava a perna, e ele levantava também, ao mesmo tempo. Abria os braços e ele fazia o mesmo. Coçava a orelha, e ele também.
        Mas o que mais me intrigava era a única diferença entre nós dois. Sim, porque um dia descobri, com pasmo, que enquanto eu levantava a perna esquerda, ele levantava a direita; enquanto eu coçava a orelha direita, ele coçava a esquerda. Reparando bem, descobria outras diferenças. O escudo da escola, por exemplo, que eu trazia colado no bolsinho esquerdo do uniforme, na blusa dele era no direito.
        Para testar, coloco a mão direita espalmada sobre o espelho. Como era de se esperar, ele ao mesmo tempo vem com sua mão esquerda, encostando-a na minha. Sorrio para ele e ele para mim. Mais do que nunca me vem a sensação de que é alguém idêntico a mim que está ali dentro do espelho, se divertindo em me imitar. Chego a ter a impressão de sentir o calor da palma da mão dele contra a minha. Fico sério, a imaginar o que aconteceria se isso fosse verdade. Quando volto a olhá-lo no rosto, vejo assombrado que ele continua a sorrir. Como se agora estou absolutamente sério?
        Um calafrio me corre pela espinha, arrepiando a pele: há alguém vivo dentro do espelho! Um outro eu, o meu duplo, realmente existe! Não é imaginação, pois ele ainda está sorrindo, e sinto o contato de sua mão na minha, seus dedos aos poucos entrelaçarem os meus.
        Puxo a mão com cuidado, descolando-a do espelho. Em vez da outra mão se afastar, ela vem para fora, presa à minha. Afasto-me um passo, sempre a puxar a figura do espelho, até que ela se destaque de todo, já dentro do meu quarto, e fique à minha frente, palpável, de carne e osso, como outro menino exatamente igual a mim.
        – Você também se chama Fernando? – pergunto, mal conseguindo acreditar nos meus olhos.
        – Odnanref – responde ele, e era como se eu próprio tivesse falado: sua voz era igual à minha. 
        – Odnanref?
        Sim, Odnanref. Fernando de trás para diante. Era em tudo semelhante a mim, menos em relação à direita e à esquerda, que nele eram o contrário, sendo natural, pois, que seu nome, isto é, o meu fosse ao contrário também. Por uma coincidência, Odnanref era o meu nome de guerra, na sociedade secreta Olho de Gato.
        – Por isso mesmo – confirmou Odnanref, dando-me um tapinha nas costas e rindo, feliz: - Foi você que me desencantou, adotando o meu nome. Senão eu jamais teria vindo, pois a lei do mundo dos espelhos proíbe terminantemente que a gente venha ao mundo de vocês. A menos que alguém consiga desvendar o nosso encanto. O meu era esse, e você adivinhou. Eu só estava esperando que você me puxasse, como acabou de fazer. [...]
        Deslumbrado com a perspectiva de ter alguém igual a mim, como um perfeito irmão gêmeo, eu não imaginava as dificuldades que iria enfrentar. A falta de minha imagem no espelho, por exemplo, era uma delas: me criava problemas para pentear os cabelos ou escovar os dentes sem poder me ver.
        Combinamos que, a partir de então, ele me substituiria quando eu quisesse, mas jamais deveríamos ser vistos juntos. Ninguém poderia desconfiar de nossa existência dupla, pois com isso se acabaria o encanto, significando o seu imediato regresso, para todo o sempre, ao interior do espelho.
        [...]
                        Fernando Sabino. O menino no espelho. 44.  Ed. Rio de Janeiro: Record, 2004.
                    Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 6º ano – Ensino Fundamental – IBEP p. 18.

Por dentro do texto:

01 – Observe as características do texto que acabou de ler e responda: Ele é verbal, visual ou multissemiótico? Explique.
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02 – Ao se olhar no espelho, o menino vê sua imagem, isto é, seu reflexo. É normal que um espelho reflita imagens invertidas?
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03 – Localize no texto o parágrafo que revela que o espelho reflete a imagem de maneira invertida e identifique um trecho que comprove essa afirmação.
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04 – Releia o trecho a seguir. “Quando volto a olhá-lo no rosto, vejo assombrado que ele continua a sorrir. Como, se agora estou absolutamente sério?”

a)   O fato narrado nesse trecho surpreende o menino? Por quê?
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b)   Identifique nesse trecho a frase que mostra o estranhamento do menino diante do outo que está dentro do espelho.
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05 – No texto, o fato de a imagem do espelho ser a própria imagem do personagem, mas agir de outra maneira, possibilita uma relação entre o menino e o outro que está dentro do espelho?
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06 – Mesmo agindo de maneira diferente, o outro que está dentro do espelho é o próprio menino e ele conversa com sua imagem. Responda:
a)   O texto narra um fato que pode acontecer na realidade ou é uma ficção, criada pela imaginação do autor?
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b)   O que você achou da ideia de um personagem conversar com sua imagem refletida no espelho? Você já conhecia uma história assim?
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07 – Indique a afirmativa que responde à seguinte questão: Qual foi a intenção do texto ao dar ao personagem uma possibilidade que não existe na vida real?
a)   Mostrar que uma pessoa pode conversar consigo mesma diante do espelho.
b)   Mostrar que é possível alguém se ver de uma maneira diferente.
c)   Revelar que as coisas são vistas sempre do mesmo jeito.

08 – Releia este diálogo do texto:
        “– Você também se chama Fernando? – pergunto, mal conseguindo acreditar nos meus olhos.
        – Odnanref – responde ele, e era como se eu próprio tivesse falado: sua voz era igual à minha.”

        Embora os diálogos aconteçam entre pessoas diferentes, o menino se reconhece no outro que está no espelho. Que trecho do diálogo confirma isso?
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Um comentário:

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